domingo, 22 de dezembro de 2013

Votos natalícios em papelote

Como uma linha
de esparguete seco
serve de entretém
e enfim de mote
para que o papelote
possa cozinhar
um desejo:

-observar como brinca a gata
-segui-la com os olhos por alguns minutos
-cortar pequenos quadrados de papel e dispo-los num tabuleiro

Ir aquecendo o forno com um bom Jazz
Acender um cigarro, beber um golo de chá verde e começar

Para a massa:

-100 g de água quente passada pelo corpo (pode apagar a luz e faze-lo à luz e vela
como sugestão)

- 40 g de espelho (de preferência vestido com algo atractivo e aparência cuidada,
demore o tempo que quiser aqui, o resultado requer dedicação)

-280g de estrutura: há que buscá-la nas gavetas da infância naquele momento 
em que começamos a descobrir que temos capacidade para dizer sim ou não,
gosto disto ou daquilo, quero mais assim ou assado, sinto-me bem ou mal,
posso ir até aqui ou mais além, gostaria de...

-uma pitada de amargura (vai permitir que a massa fique consistente impedindo
o aparecimento de bolhas de ilusão)

Esfregue as mãos uma na outra e amasse bem todos os ingredientes até fazer uma bola
inteira agregada. Procure pelo rolo "dos outros" e deixe que estendam até ficar bem fininha,
cuidado para não chegar ao ponto de ruptura. Procure pelas obrigações e pelos papeis sociais
e corte então a massa entendida em quadrados, rigorosamente iguais. Deixe a repousar.

Para o recheio:

-70 g de memórias maduras, plantadas sem aditivos e colhidas no tempo certo
-1 lata pequena de obstáculos que já conseguiu ultrapassar
-120 g de lágrimas que só lhe fizeram bem chorar
-400 g de amor, de todo o tipo de amor que conseguir encontrar, que já deu ou recebeu
-Novamente, uma pitada de amargura para contrastar com tanto doce
-6 desejos embrionados (deve sonha-los e desejá-los com todas as suas forças)
-1 colher de chá de carícias íntimas (lembre-se que este é o corpo da massa!)
-Raspa de dois livros de poesia: um sobre vida e outro sobre morte (queremos o recheio
bem equilibrado)
-esperança para polvilhar por cima

Triture as memórias e reserve. Triture os obstáculos e reserve também.
Em lume brando vá mexendo as lágrimas e o amor bem devagar. Queremos que fique em ponto de estrada. Retire do lume e acrescente as memórias, os obstáculos e a pitada de amargura. Envolva tudo com uma colher de pau. Adicione os desejos, as carícias e as raspas dos livros, sempre envolvendo
com toda a sua dedicação. Volte ao lume por mais alguns momentos, sempre atentando para que não
se queime.


Recheie então os quadradinhos da massa. Não é preciso que fique muito preenchida. Pode usar
uma colher para medir cada dose, assim terá a certeza de todos ficarem iguais.
Junte as pontas dos quadrados e faça um embrulho com o papel.

Leve ao forno 40 min e ofereça neste Natal.

Nota de Aviso:
Não se espante se, ao consumirem o seu voto os outros tenham manifestações como sorrisos, vontade de abraçar, chorar, calores súbitos, gemidos e até em alguns casos raros, alucinações ou fantasias consigo. No caso de os ver pendurados numa janela já sabe, agarre-os!














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