sexta-feira, 9 de maio de 2014

A Paz


numa penumbra doce
asfixiada inquietação
gosto de te ver fumar pela casa
os dias que ficam longe
por detrás dessa janela baça
cosendo espaços
em frascos de vidro
fechados
e no meio de tudo isso
flores que entortam o tempo
nenhuma dor te desperta
dessa segunda natureza
comovente urso polar

uma andorinha trouxe
a maçã polida embrulhada
em pele de chita
entrando dentro de casa
pousou-a sobre a mesa
e retirou-se

-os animais do norte
não conhecem a morte
tal como um peixe
não conhece os cantos
do seu aquário
ou do seu armário?

ajoelhou-se
-espera que me deite
as florestas brancas
estiveram todo o dia
vagarosas
-um dia desço à cidade
só para conhecer a origem
desse veneno escarlate

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