sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Até ao fim meu amor


transgredir as linhas de que somos feitos
o efeito retardado de uma sensação feliz
esculturas de mármore rebentando por dentro
escorrendo do corpo a seiva notável
plástica, escorregando nas curvas, ácida
pedaço visível como se fosse carne
impressões digitais murmurando vontade
o desaparecimento da era metálica
inaudível
transformar-se o efémero das entranhas
o rosto triste daquela que pende uma lágrima
por mágicas dores ou imobilidade tântrica
a postura sempre vigorosa e elegante
de uma estátua-mulher anjo da guarda
compleição alva, libertar a margem
pelas ruas do cemitério silenciosas
a respiração da morte nas plantas que crescem
ao enunciar de cada sílaba de despedida
dos sentidos da alma, jogar à apanhada
aos domingos velejar expositores de vidro
velando aqueles que estão dormindo
e desencadear o ímpeto da ternura
o universo ao cuidado de fluir
inócuo, ocupante, a razão de se amar tanto
diamantes, safiras, aquele que brilha à luz do dia
a máscara orgânica da fantasia
em equilíbrio, um vai e vem de espíritos
esculpindo na bruma a génesis
a espuma branca dos oceanos galopante
batendo contra a carne os horrores da vida
para se desmaiar no final com tanta paixão
essa molécula capaz de governar a caminhada
e terminar a viagem dentro de uma caixa
que nos pode caber na mão

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