terça-feira, 6 de setembro de 2016

horizontaliza-Te



andam sibilantes as noites
do parapeito da terra apenas buracos no peito
sou como um pedaço aberto que a ponta da lua
despontou
ser arrastado pelo vento
para chegar às margens que me decompõem
em terra e água e ser vibrante
da matéria dos imortais terrenos e mundos
da depravação do fim do flutuamento
devorar-me de pílulas inertes à deriva
do pó-de-arroz dos vulcões extintos
das manchas que a terra inventa de longe
a vitalização da tinta escorrega-me do coração
das maçãs do rosto carreiros do tempo
uma única centelha o sol posto
andamentos do começo dessas noites
com toda a solenidade da morte
jardins de campas cobertas de neve
a neve desfaz-se antes de ser dia
com toda a função estéril da fantasia
deixemo-nos ficar
para conhecermos as estrelas desse dia
horizontalizando-nos
as montanhas falam na língua da poesia
com os seus olhos especulares
e os seus pescoços helénicos
fios de cabelos desfiando-se do cume
novelos à roca de um lugar fixo
deixemo-nos ficar
dos saiotes ancestrais nascendo a utopia
os que virão encontrarão o paraíso
das formas virginais do entrudo
deixemo-nos ficar
o sol magro contempla os pertences da felicidade
exibe-se diante da fome da liberdade
compreendermos que não somos nada
o rio que devolve à margem a sua imagem
raias com asas para o planar do regresso
deixemo-nos ficar
do fundo boreal das auroras esvanecidas
a escala retomará a luz
quando tudo for imparcial lacuna
cuja memória profunda do belo, do apetite do belo
encontrar de volta o cordão umbilical do absoluto
que alguém nalgum momento há-de quebrar
mas por agora...deixemo-nos ficar

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