quarta-feira, 28 de setembro de 2016
o cortejo da morte
são cabeças de veados, tigres, lobos
são cabeças de animais sedutores
no cortejo fúnebre da fantasia
são as expressões faciais de uma planta
onde toda a margem são as linhas que pisamos
ou latas de corações recortados
para reviver o interior de um alimento que nos mata
das hastes enredadas lâmpadas acesas
corredores de pequenas lascas de Adão e Eva
línguas entrelaçadas, corpos trancados
pedaços de carne fálicos escapando das fissuras
das peles dos assentos e das portas de espelhos
bebendo pelos chifres da besta mais intensa
corpos nus esfregados em cortiça
ou serpentes que se iluminam em casas de madeira
do tamanho de uma criança
janelas, molas de roupa, pedaços de tecido da infância
tão perto de deus, como acolhidos
do familiar espaço do silêncio retratos
as paredes confessam pecados
ou originários lutos do coração privado?
tudo a que chama a morte nada pode
da devastação da memória folclórica
canonizar a nossa alma, pegada, momento
nos gestos brancos das mãos que petrificam
o quebrar do pulso que se entrega
na oficina dos sonhos
diz-me, diz-me como acaba!
não posso parar de viver sem o saber
como quando termina uma melodia
como quando se arranca uma página
a violência dessa vírgula
por nós perdida
ausentes, como essas vigas donde salto
que sustentam o silêncio de que falo
nas águas paradas do rio sem margens, nado
sem cintilante fundo magnético, flutuo
o que nos devora é uma lua atirada ao espaço
nos habitamos nesse vácuo de um planeta sem pedais
para nos medirmos nas veias de um animal de cativeiro
-pedala, ainda estás lá dentro.
e fica uma emanação por brotar
dos altos muros das nuvens que não querem chover
lagos salgados de pesados reflexos
pelo engano de uma pomba
assassinada pela mão do ilusionista
aqui estamos - do outro lado da caixa de vidro
metade vivos, metade perdidos
rasteja a meus pés a sede
a cabeça perde-se no grito humano
há uma cruz que me rasga o externo
sem que me sinta banhado de luz
do mundo dos mortos me chamo
para que o barqueiro se perca
e eu fique por aqui
só uma só palavra fosse o remo
capaz de cavalgar dos infernos
seria torpedo, harpa
tal narciso chapado na água
o abismo, a lança, para um coração sem esperança
dos umbrais da noite
das gavetas de alfazema
sopros de vertigem
dos corrupios dos faunos e das luas frenéticas
o ajuste do acerto das sílabas das sombras
do espaço íntimo da convocação
dos entes que caminham sem chão
há ecos que nos preenchem
limitados ao horizonte do que ficou sem ser
enterradas as palavras ficam por sentir
do definitivo ou indefinido
debruçar-me sobre as grades incandescentes
das partes do céu que caem do futuro
as amargas mordaças que nos destinam
os desenhos das mãos que crescem da ânsia
do desperdício dos pulsos
o acordar onde tudo termina
e nós terminamos aqui
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