quarta-feira, 26 de julho de 2017
o turno da noite
da beira de céu
a entrega da carne e do sangue
mergulhada uma impressão tranquila
a cidade ficando para trás
podia escutar o exalto que a ferve
de infiltrações negras, isoladas
do tabuleiro da ponte em quarto minguante
uma foice de lua ocre
e a mão de fora caçando pedaços de vento
veloz, o que fica para trás, veloz
do cais a pistola da partida
rebentam as suaves marés nos braços
numa competição de guelras
papagaios largados da mão de deus
como se estivessem parados
um homem também ele atravessado
um homem valado de memórias
doente para além do sol
foi-se de luz e verdades microscópicas
correram nus como borboletas
os fragmentos de uma alma de instantes
ficar na plataforma vendo partir
e dos silêncios poder repetir-se
as pontes são ecos dos pés
escuto o tiquetonteado dos ponteiros
dessa rosa dos ventos do meu peito
um adeus de um alpendre vazio
o tabuleiro da ponte que suporta
como se não houvesse lugar à escuridão
os braços dessa ponte de um não adeus
um débil rasgo de luz
caído obliquamente da confusão das nuvens
de não se saber quem se deixa para trás
depois a crença do murmúrio da derivação
vagando o espaço silencioso para outro
sentir o pulsar do sangue
a correr em apoteose para o mar
um dia, numa noite tranquila
a primeira fúria sem remorso
a cidade parte dos nossos olhos
e temporariamente, nós partimos com ela
sem bagagem, sem peso, sem começo
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