sexta-feira, 11 de agosto de 2017
do volver à perdição
os olhos habituam-se à escuridão
no silêncio catatónico do mar
as cordas que vibram na madeira
estendais de vazio
as casas de dentes e patas e pêlo
choram no gesto do adeus
de tudo o que ficou para trás
ainda mergulhado numa dor imensa
o animal encovado de tristeza
doses de colo materno em falta
para um inverno branco
e um aguaceiro contido
o céu carregado de palavras
o penoso trabalho de guarda-las
o sofrimento pintado de fresco
por toda a parte
se a lágrima caísse das nuvens
dedos, lábios, em combustão
nessa espécie elefantina de mágoa
que brotou de uma alma confusa
se pudesse salva-los a todos
no alívio de nunca me ter salvo a mim
sufocar os demónios imortais
que ninguém pôde arrancar de mim
no murmúrio de preces
escuto a cura do profundo oceano
o peso, o peito, de se deixar ir ao fundo
e partir num dia qualquer
sabendo-me bruxa da terra
do volver das paixões sem raízes
e em lugar de pegada, a lágrima
sempre a lágrima não como uma palavra
mas como toda a poesia
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