terça-feira, 29 de agosto de 2017

esse cais que nos acolhe


o céu condensado de dor
um corpo terreno no cais
de pedra raiado
a luz fulminante do cair da tarde
a tarde de final de estação. é tarde
pedindo colo no abandono
para a certeza de levitar na servidão do olhar
antes da fome, da sede, do cansaço
sonhado com todas as forças do mastro
na impotência mistura
o paraíso sempre tem a duração desse olhar
quando errante a imensidão de tudo
é mais longe que o comprimento e a largura
reforçar as velas, o sopro, o choro
içando-me do fim do mundo
e a revolta das profundezas não pode
virar-me do avesso mais do que conheço
como ficam os lugares que ficam para trás
para um naufrago que tem a pele em escamas
e as mãos em chamas de tanto se atear
pelas nervuras do oceano o luto
reparte-se por todos os que o habitam
o céu clama um destino maior que o homem
que se adia na urgência de se matar
e todas as orações não podem

anjos sem corpo
esse cais que nos acolhe a todos




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