sábado, 16 de setembro de 2017
cartas de neruda
doem-me todas as coisas
vivas e mortas por dentro
leio-te.
o lançamento de uma pedra no lago
o momento presente com que salta
e volta a saltar para se afundar
nas profundezas de tudo o que fica
um gato na fixação de um pássaro
o espesso céu cinzento que uniforme
nos aperta de conforto macio e suave
também eu deixo os olhos no céu
por não saber o nome dos pássaros
sopra um vento seco na boca dos homens
o imenso alívio de tudo
abate-se de quatro patas no ar
com a vontade de matar só por matar
porque a inocência é um estado
talvez porque despidos
o corpo é como qualquer outro
e o meu é o teu ou o teu é o meu
esse poema lúcido que se toca acordado
uma árvore antes da queda
uma imagem de um santo
porque aqueles que mais temem a morte
mais perto dela vivem
é quase tão sério e sombrio como amar
leio-te. por querer descodificar
por querer quebrar as paredes
desse espaço nesse outro espaço
uma brinca de vícios ocupantes
como seria ficar só contra as paredes?
leio-te sem pretensão maior
não querer dominar, não querer acabar-te
leio-te para me começar todos os dias
como um poema mais próximo de ti
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