segunda-feira, 25 de setembro de 2017

no dorso do sonho


- ofegante
entreseios de pernas arqueadas
que se emprestam das vulvas da madrugada
até à última gota
nos vertem despidos de sinais de nascença
a pele branca tinta da china pincelada
há a urgência de um conversível danado
e se fossemos de porcelana comestível
carcomida de tempo infalível
essa água de colónia lavanda
uma xícara de absinto de águas fluviais
para fervermos em lençóis de limalha
o banquete do paladar anestésico
esse balanço crepitante descombinado
aspirar ao ritmo de azuis em topázio
atirar-me ao rio com traços de flamingo
esse céu rosa desmaiado de tempo
onde me perco
pega-me com esmero
a lua miopia mede o círculo da íris
pega-me com esmero
a pele oxigenada de desespero
puxa-me pelos cabelos no calafrio da queda
somos alcatrão e prata e pedaços de estrela
aprendiz de tumba vespas na ponta dos dedos
para a existência de se contorcer
estafados na forma
vira-me do avesso
sem o menor indício de fratura
voltas na ausência de um trago
de uma língua que atravessa a outra
o contacto um manjar glaciar
o labirinto mental do lençol
gravado de sonho e suor e o teu nome
ofegante
até à última gota

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