segunda-feira, 2 de outubro de 2017

memento mori



um cigarro pendido no cinzeiro
a fera que arde lentamente na mortalha
há no peito um extractor
porque para dentro se carrega
toxinas de um desnível que o mundo
visível rasteiro não conhece
e a pele toma uma força metálica
a ferrugem para o restauro dos pilares
do grande grito da fúria
ou da cinza que cai no vaso
criaturas minguadas depois de ardidas
espirais de fumo
aos comandos
sentimentais sem rumo
o antídoto cristalino giratório
para a cadência em crescendo
para a surpresa da hora
de sentir cada dia mais vivo
abruptamente
rebentam à superfície
notas incandescentes dislexicas
compreender estupidamente essa hora mágica
a língua sucumbida aos travões da vida
para retirarmos do substrato mais
e sempre mais profundidade de um buraco
há uma pauta magnética no corrupio das almas
que não nos assenta
e os dedos calejados, de amarelos doentios
não trazem o cigarro à boca


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