quinta-feira, 19 de outubro de 2017

o corvo mergulha no abismo



o corvo mergulha invertido
no fundo observa a vida na sua abstinência
ao chão duro, a tudo o que já não é puro
é com toda a serenidade que aceita a tristeza
cada ramo volátil de natureza
e é confortável e quente, como a cinza que fica
para a abstracção solar, para o rastreio de vento
é o espaço que está entre tudo
a pasta que solidifica a pele
depois do encarnar das trevas
a projecção do coração humano
a sombra nutrida do devaneio
ou a metáfora do ângulo morto
o momento traçado altissonante
aliado a uma hipérbole vibrante
insurrectos seremos sempre escravos de afecto
emancipado o andamento desmesurado
banirmos do exílio o passado
a destruição dos teares da morte
e vagar pelo mundo dos vivos
avatares de Prometeu
da fuga dos doentes de engenhos
perdidos nas brumas da metrópole
ou na ficção do átomo isolado
para esse vórtice oracular da vigília
contra a alvura fantasma de uma vida
para a arte do alto voo do incógnito
tudo memorandos de imagens titânicas
descritas pelo voo horizontal ao abismo
o corvo mergulha
o corvo mergulha invertido
traz de volta aos vivos
a paz dos mortos esquecidos





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