quarta-feira, 18 de outubro de 2017

nossa senhora


a semente caída do aperto
dos parapeitos das janelas
dos maquinismos da infância
da água que ultrapassa o seu nível
para o dia de expansão
à execução da fadiga
dos dias sem aurora
para o transbordar de relevos
onde o peito arfando de fogo
se demora sempre de tão negro
contra aquela janela aberta
onde não chega nem calor nem frio
moramos em lapsos de impaciência
para a asfixia do grande reboliço
-havia entre nós alegres demónios
ora para dentro ora para fora
como as velas que se acomodam ao vento
versículos irados em voz baixa
"um mistério...um mistério..."
tomando o seu lugar o dia sereno
nada absolutamente nada
uma represa que se abre ao espírito
voar por cima das pontes
onde as lágrimas já lavaram a tristeza
e entre nós nessa espécie de tecido
esse sofismo de tudo o que é bonito
como as velas que se acomodam ao vento
tudo caído do aperto do fio do novelo
da primeira ponta do mundo dor
mundo das coisas humanas do amor
tocaríamos a terra mais de perto
com o gozo do sentir-lhe o tecto
graças ao céu e ao inferno
sabemos que estamos sempre por perto
tropeçar na felicidade como um pormenor
cujo passo maior que os nossos pés
e beber desse cálice de amargura
até sentir as borras na língua
para o anunciar estridente da loucura






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