quarta-feira, 11 de outubro de 2017
o espírito em visita
a paz dos claustros vazios
dos vivos deambulando
ossos de um fiel cão de arrasto
salmos de solidão
para fomes vulcânicas adormecidas
andam as trevas da extensão
débeis de tanto quererem
o aparelho da madrugada dos homens
o antídoto ao desamparo
para o pó dos dias
e o tempo demora-se
no bico de aves do frio
o corpo febril de lágrimas de cimento
o que escorre agora é a chuva do entorpecimento
e as manhãs nascem do livre arbítreo
revolvendo os espíritos no seu zelo
se a brandura não conhecesse o teu olhar
as mãos adagas com que me afagas
ou a saliva com que me afogas
quando terminam todos os salmos
e as aves abandonam os nossos telhados
o dia não é mais a extensão da noite
porque o caminho de volta se conhece
o medo aperta-nos as mãos
o monstro desaparece das trevas
a angústia de te encontrar na escuridão
que sempre tardou a ser completa
e os passos percorrem as salas
pintados de fresco avidos sangrentos
as criaturas desprendem-se das paredes
e falam tão alto que não as compreendes
a privação do sono, da fome, do sexo
quase submetidas ao fenómeno do sonho
e do olhar fixo dos objectos do mundo
a cabeça é um simulacro da existência
o esqueleto de um homem no centro
uma luz azulada progressivamente
vozes de crianças veladas de véus
e flores e pedaços delgados de dor
não mais humana que essas mesmas
paredes, de claustros de células e veias
e tudo isto é viver e morrer
e tudo isto é triste e belo
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