sexta-feira, 6 de outubro de 2017

na voz do espírito


um único latido
de morte desse pobre animal
a monte, sem o afrouxar dos passos ao nada
os tapumes lavados de sangue
acariciar o animal moribundo que deambula
nas horas bravas cruzadas na verticalidade
esse animal que lamenta nunca ter visto o mar
nem a brutalidade das ondas contra o peito
sentir o sofrimento dele
uma hemorragia incontida
uma árvore acorrentada pelas suas raízes
uma concha vazia
que passa de mão em mão na surdina
sem o despertar dos sentinelas
das faculdades de atravessa-la no silêncio
a noite suspensa numa forca de dor vaga
pagã, enquanto respira o instante valado
em todo o olhar um banco de praça
ou uma porta de igreja
de olhos fixos na terra
oiço cigarras nas cidades
e cães mortos a sangue frio
no abandono de dono algum



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