quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Anátema


no bosque de todos os silêncios
há um monstro incessante
cavalga trepa por nós acima
de uma finura de papel bíblia
às vezes um capote espesso de gestos presos
tem a mesma pele e o mesmo cheiro
mas uma implacável avidez de destruição
reside na depressão dos tempos
na teimosia cáustica da resistência
para os germinais campos da visão
por onde lavram homens ao abate
marginalizados numa cela de sonhos
parece que ouço o barulho da chuva
das arcadas da terra choram árvores
está uma virgem estátua do desperdício
as mãos súplicas de objectos do mundo
depois um corpo rochoso encolhido na encosta
coberto de sombra e noite
o mar bate contra as mãos nuvens
a espuma dos ossos ou um deus de pedra e solidão
a força do espírito condensada nesse embrião
o voo fértil dos visitantes nocturnos
que saltam do mar e pousam nas mãos recolhidas
como cavidades fósseis de gente
em breve esse corpo secará
a carcaça de um navio que já não vê o mar
tudo parece insustentável
a fronteira latejante da raiva dos homens
as paredes céu sem filtro... os troncos ocos doentes
e os pássaros confusos rondam a terra
pronunciando ruído e caos
agora porque alguém chora a deus nenhum



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