quinta-feira, 11 de janeiro de 2018
Anémonas pela noite
despe me
assim solitários sem esqueleto
a rua deserta para um saxofone desconcertante
um piscar intermitente a centelha
a lua a giz
essa cratera de impacto que nos fica
decadente a matéria privada do vazio
a fera esventrada em sedimentos finos
que com fome de cão tacteando as paredes
aos encontrões nesse pavimento rebaixado
a que chamamos tela asfixiante
o sangue estremece em valas
no reflexo da chama o rosto do velho mundo
a imagem viva a subir a rua
noites secas por onde se move a vertigem
as brumas substanciais da memória
sermos deformidade em basaltos de coesão
do fundo pedante da alma
em procissão as palavras encosta a dentro
uma pedra soturna atirada em perpendicular
expulsar do corpo de crianças o aparecimento singular da chama sossegada
para o pecado exposto da fera esquartejada com prazer
assim é nas velhas casas da infância
por onde divaga agora a alma bipartida
ainda um céu formativo de purgadas dores
demencia procox
a cobra enrolada na natureza feminina
os sentidos possessos
visores de um ferimento de matéria escura
para a narração da soma dos espaços
caminham em trajectória veloz
o tempo desculpando a cobardia
somos a atracção de curvas sem distância
abrir se me os lábios
onde esse Equador insustentável te acolhe
os pássaros aliados inquietantes
e depois a reminiscência da poeira e gritarmos
na mais breve violação da alma
e a cruz estampada na testa
de pernas abertas e braços cortados
em nenhum abraço mais
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