segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Pátria infância



nesse banco de madeira descolorado

uma infância inteira
jardins de laranjeiras ácidas
trevos de sorte mutante
do coreto ocultar passos de dança
amplificador balanço do vento
ocultar
o orvalho vasodilatador de zincos
do texto que procura a vida lêveda do tempo
cada célula cristalizada crisântema
e do cansaço de cada bafo essa amorfia carnívora
contemplo
a pirotecnia de um céu de vácuos
a saliva a liquescer o silêncio sequestrado
e entregue de novo ao corpo
o lugar do fundo em aberto
trepam pelas estátuas as últimas crianças
crianças pombos excrementos
filhos dos campos de inverno
entre muralhas insectos clínicos
para travar a queda ao virar dos dias
na cilíndrica relação do vale ameno
anémona fera de dorso eriçado
espreitam das janelas farpas pontiagudas
farpas que trepam hoje pela alma dos demónios
tudo se move e range abaixo de terra abatida
com a imprecisão de um arado automático
a rega acolhe o mijo
essa fábrica de gestação sem lentes
em cavalgadas delirantes
para sermos poiso de banco de madeira
e por fim só.. fome de corpo velho




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