sexta-feira, 27 de abril de 2018

conserto a quatro mãos



a aflição viva dos tectos
de quem se opera de fios de seda
pendurado de ganchos braços
o impulso de nos partirmos
agora por dentro os uivos gritos
no soturno mutismo próximo de nada
de quem se opera de fios de cabelo
a obsessão da moldura do imagético
esses tectos lâminas redutos
o pêlo depilado de dedos agitados
os campos livres de cores violentas
estrelas de metal íman de peso mortal
nos azedos da boca de anjos vagabundos
o roçar de lábios que se desdobram
do renovar robótico de línguas agulhas
o estilhaçado transversal do chão
em subterfúgios no corpo soturado
se confunde de enjoos e plenos
o fundamento da mortificação
acolher o fim da insónia uma flor aberta
tudo testemunha a fúria violenta da vida
as horas debilitam-se sem resistência
mordaça  de campos blindados
roço em jardins de cor de rosas
jardins de campas de mármore rosa
coleccionado-me de vidas
nas marés sucessivas da urgência
poisa-me no peito a mão
as unhas cravam o ritmo do rasgar dos pontos
penduram-se garrafas nas paredes
e peles arrancadas a dentes
respiro findo respiro-me de vidro
quero do espírito desabrido desabrigo
a longa lenta letargia das veias
beijam-me no pescoço
chagas de velhos traumas
as tuas mãos
eléctricos campos de ventosas
resta sempre a imagem
de amarelos laranjas enjoos de luz
havia os olhos de riso
de horizonte condutor carburante
o tempo abrindo-se de certas horas sísmicas
e cinzas cobrindo de auroras as crateras da vida
a aflição bruta dos tectos que nos espiam
para quem se opera e cose de fios de morte
para sempre voltar a imergir na tua boca
pelos interstícios da roupa



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