segunda-feira, 16 de julho de 2018

"ela dança num anel de fogo"


assim foram transformados em feixes de luz
e na telepatia da noite choram-se

apanho os ecos vindos da alma que atirei ao espaço
dos venenos contidos dentro das garrafas

o meu desespero emergente do grito mais grave
atracado nas mandíbulas do nevoeiro mental

retiro-me dos meus braços para te deixar só
para a hipnose sublime da vida arbítrea
os olhos parecem vazios porque na verdade estão
por continuarem abertos os lábios movem-se
aos poucos linha a linha o corpo sossega
para se concentrar numa sonda profunda
uma sonda-relâmpago que ilumina no escuro

não sei quantas vezes enterraste os mortos
e a mim continuas a matar com teus versos
e eu recolho-me para uma posição fetal
contorcida de sintomas de alheamento
porque parti o meu coração para te dar vida
vida que agora não encontro em mim

a tinta que vai secando no odor amorfo
da janela abriu as cortinas e contemplou-se ao espelho
um homem nu e ainda demasiado jovem
trespassado de fantasmas frios e feridas que não cessam

o meu coração de vez em quando pára
paralisado pelo choque de tanto sentir

e é neste diálogo que não haverá silêncios
nessa aparelhagem estereofónica de dor

porque dentro de mim uivam lobos
e uma viagem astral de fomes incessantes

assim como me parto em versos espaçados de tempo
tempo que sinto sôfrego e pouco
e tudo sai de dentro num atropelo de vago e colateral

de querer tanto a vida às vezes me empresto à morte
por isso avanço na destruição e abraço o caos

tenho tanta fome que era capaz de comer o meu próprio coração

a poesia é uma instituição para crianças paranormais
pateticamente deixadas no abandono entre os mortais

e dessas estupendas rosas que toda a gente traz na lapela
sangram pessoas de verdade

e depois erguem-se muros de pão e leite e carnes frias
que nos mordem a mente e o corpo de desgaste físico

e a paisagem primitiva de mistério
onde dormias distraída
mamíferos sanguináreos
amortizados por whisky
e ressacas de extraordinário




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