sábado, 17 de julho de 2021

Ódio aos moralistas

 

Pois coração declaro-te impotente
tenho esta imagem na mente
um homem lavando-se publicamente 
esfregando o sexo, lavando os sovacos, catando os piolhos, cortando os cotos, 
tirando do sarro da boca 
a dignidade que lhe sobra
para estar limpo para as sobras

pois coração de hiper realismo 
te encontras a leste do paraíso 

quando o murmúrio der lugar ao grito
que ridículo se acreditar na poesia
quando podemos quase tudo com o punho
menos lavar o sexo em público 

Tenho estado com essa outra imagem
uma camarada,  térmitas soviéticas
deito-me sobre a terra seca sigo-lhe a carreira
esse púlpito de arame farpado lá no alto
para ser trapézio de um mundo que há muito
se distanciou do leste sonhado

suporto melhor hoje a ideia da finitude
quando no acender das luzes 
cabe também o poema concreto e subterrâneo 
já velho, muito velho, como o conheci
antes de lhe acompanhar o cortejo 

quanto mais depressa essa ideia se consumir 
uma candeia atingida por pirilampos extintos
quanto mais longínqua a minha ideia se cobrir de escancarada e descarada 
subversiva alma mergulhada 
menos sentido faz o verbo e é por isso
que embora sem precisar de o explicar 
como quase tudo o que chega ao seu rumo 
volto vagueando, para no atravessar desse louco
poder também eu passar  despercebido 

No enclave da morte
para que volte, uma e outra vez
mais forte, mais vivo, mais lúcido 
mais bravo
mesmo que seja para lavar
o meu sexo em público 




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