quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Antes que Te aconteça


Filho da mortal frigidez que nos extingue
da afasia, da astenia, da marcha lenta
da fantasia
a vida pertence a uma folha em branco
à terra revolvida desmaiada de futuro
à força do nunca baixar dos braços
da cal viva, da cal que queima em carne viva
o sangue castigo que se derrama
esse castigo de estar vivo
porque o esqueleto do mundo tem tristeza
teus ossos são poemas
Tu
que caminhas em pontas de agonia
torrencial, rente ao chão, transportando
em síncope os movimentos do enforcado
ata-se ao pescoço um desafio
encarregue da salvação da tua alma
a lâmina, o rubor, guilhotinado olhar
que fixas saudoso o horizonte
essa linha que não é mais uma fonte
que a terra para lá continua
sonhando confusos intermeios
Teus receios
bichos papões da vontade
cabeçudos baloiçando à dentada
corações coralizados atirados
borda fora

na chapa do céu oceano
mira, Teu reflexo narciso
desse húmus contos de fadas
somos histórias extraordinárias
opus estorvo, o cu de judas
autópsia de um mar morto
a qualquer hora, muralhas, defesas
pequenas falhas em gaiolas de lira
o gosto salgado sanguinário
porque para se viver há que se matar
uma ideia, um pensamento, uma dor
Tu que só podes ser suicida
de um outro Eu que não Tu Vida

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