terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
as searas do nada
sofre de fastio no seu poiso
lactante de pedra, o seio
predilecto filho da lua
as arestas chocalham nas matrizes
das palmas oleadas de amor, embalar
um traço encardido, nascemos com rugas
da ranhura da fechadura emerge
o nostálgico olhar do que não foi
o choro em uníssono antecipado
inventam-se degraus de fuga
para se deslizar por abismos sem luta
águas paradas de mel de esteva
o diâmetro, amasso, estendido
abismado numa espécie de fermento
migalhas de pão de deus
cismar o que em mim não saciado
somos tentilhões na sombra
para galhos aparafusados
de um artifício anti natura
por isso não houve sequer ruptura
olvidou-se-me um passado...
diz que nós também já falecemos
só ainda não chegou o nosso tempo
contemplamos no céu estrelas-espelho
do alpendre o fruto mostra a força
depois de maduro e não colhido
procrastinando-se de esperança
que se vai consumindo oxidada
ceifamo-nos na geada...
fora de um tempo que nem foi tempo
por tudo isso,
atrasa-se a sementeira
de joelhos a seara domada
ainda a mão se entrega à terra
nesta morrinha, cacimbando
o bafo divino da ensinança
que das tristezas iguarias
não cresce nada...
o cão que manda na gente
o chão magro que engole a gente
caminhar-se arrimado ao mundo
caminham os sapatos do defunto
nesse passo sem préstimo
mas o chão é sempre vagar
porque assim se gosta de estar
cada lágrima é um poema que avento
que cai ao solo sem amanhã
até o nada carece de tempo
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