quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

despidos de ser



o avesso vale o interior
de se andar despido de tanta dor
de se mastigarem as coisas
no reflexo de um Maçam-me
podia ter despido uma desconhecida
dos intocáveis nós do seu vestido
monstros de múltiplos domicílios
um trajar de reversível
ostentatório de berloques e fantasias
a minha musa tem apenas dias
e algumas noites de acordada
amostras do começo de ser gente
carpetes e retratos para contraplacado
tudo vendido no mercado
quando o céu reflecte o final do dia
o adormecimento de Vénus
um segundo império
começado de um bocejar
que se deixa em ponto morto
as vozes autóctones anafadas
os escaravelhos agitam-se na folhagem
tudo é curiosa observação onírica
para a paisagem perdurar no retrovisor
nessa memória-santuário
inspirada na mais pura das linhas
dos antagonismos que nos contemplam
em que se fundem as massas
no anonimato sem carapaça ou véu
uma paisagem-romance
o purgatório na rodagem mecânica
o óculo numa espécie de focagem
a vida é um grande desengano
desce-se o pano e não vai nada
a cabeça móvel de um homem miniatura
a repetição de um paraíso inquestionável
tudo no paraíso é uma questão de estatística
o complexo doentio dos mandamentos
 e que mandam os mandamentos?
das grandes artérias da vida dádiva
obrigar um mundo qualquer a parar
repousando na retina milenar
o enfim descanso de não se ter de continuar
faisão em tapeçaria de parede
alimentado a grão concentrado de ilusão
a ideia-fixa da terceira dimensão
que nos persegue a transformação adiada
remenda-se tudo sem um pouco de nada
os habitáculos do céu são perfeitos
no vértice da pirâmide umbilical
babel parindo algo de angelical
me coloraram um nome
onde a escuridão tem olhos
para nos definir sem fisionomia
volto-me, para a irradicalidade de um mundo
sem continuidade
para-me o coração de narrador sem vontade
encarniçamo-nos de uma sorte desfavorável
a escória humana
aproximando-se a passos de enterro

compreendo agora um só refúgio
contemplo as pequenas esferas
planetas-umbigos abrigos


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