quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

o abismo por instante



quando nos morre a alma na poeira do chão
na língua latina o silêncio da cobardia
o que levita é a vergonha de um vida sem luta
a cisma de um sorriso medicado pela morte
em peregrinação descarnada a ironia
como um esqueleto que guarda com cuidado
a caixa do coração para oferecer a outro corpo
convulcionar-se até à combustão da loucura
as cinzas de uma alma vazia são a especiaria
que adorna a festa das epifanias
a chuva que na teimosia contorna as sombras
os campos desnudos são entregues ao acaso
à sibilância da queda das estrelas, não há desejo
a transpiração da terra lacrimejada são nevoeiros
a vida desmembrada pelo exílio do anil
cada vez mais longe desse céu anil
quedas d´água de segredos engenhos
colunas de pedra e espelho
são as cataratas da cegueira de uma vida inteira

quando nos morre a alma na poeira do chão
de que serve estender a mão com nostalgia?
saudades que não alcançam porque não tocam
a cidade murcha como uma rosa do avesso
para que se imagina haver outra vida?
de todos os quadrantes da existência, tristezas
a devoção despede-se de nós
algo raro e sabotador emerge com tamanha dor
são os ventos cortantes da melancolia
purpurinas para antigas liras
a foice da musa que encanta a paixão última
exercício marcial de erudição sublimar-se
a doma da dureza de alguns milagres
segundo os cânones do universo
quando dança um planeta em volta de um homem
o abismo por instante seria a vida
da maquinação inocente o refúgios dos fatigados
parar-se no cadafalso equilíbrio
que só o imaginário poderia ser fictício descanso


quando nos morre a alma na poeira do chão

comovo-me numa cidade de espectros
choro numa cidade-deserto






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