segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

apocalipse Agora



os bichos bichanam
palpitam os homens de puro bruxedo
a aba do monte que se dobra em montanha
o céu tresmalhado de doença
vai chover
e o capote obediente ao mínimo passo
minguar-se num pequeno coração resinado
fazendo o inventário dos solitários sobreiros
tudo pode ainda germinar nesse preâmbulo
de morte
laminares de vida microscópica onde deus
se manifesta
os arrufos adormecem na zurrapa
onde está ninguém em nenhures
do sangue à terra
que termina na foz da solidão
ser um farol das horas do sol
e depois das estrelas sem constelação
os espíritos de vanguarda emanam
galvanizados, irados, dançantes
episódios de sonho que ardem na fogueira
nasce um homem sem infância
das alavancas a mó, o pão que consome a vida
cadinhos onde se conjecturam rumores
que caminhos outros, tractores
a terra dura abrindo-se aos infernos
nem os animais têm mais préstimo
da faina dos esquecidos não há lembrança
é um agri-doce de paz e inquietude
os olhos negros de luto
por aqui há sempre luto
um qualquer sentimento definitivo de partida
que significa estar mais só
contemplarem-se os dias felizes
num feixe romântico de encantamento com a morte
ser-se apenas um apontamento no horizonte
uma árvore, uma cegonha, um pastor, um cão
o severo entardecer de comoção violenta
uma lágrima furtiva para o último
sempre desiludido com o próximo
alvoradas indesejadas...cíclicas, amaldiçoadas
onde morrem os santos
capelas escancaradas para altares de pombas
contam-se histórias em voz alta
para antepassados espectros de saudade
daninhas as almas que renascem
persegue-lhes a melancolia nesses dedos profanos
que das paredes e dos pátios as ceifam os anos
a morte nasce com a vida





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