sexta-feira, 6 de maio de 2016

acalma o coração



caminhando sobre o fogo não articulado
somente de pés descalços
para o renascer na curiosa palpitação
das brasas próprias do chão
de que se vestem os nus
da candura de filantropias
revela-se a si mesmo
quando o eco soa mais alto que o pensamento
pétalas de narciso por mãos alheias
fui feito de rasgos de infinito
da lapidação de um rude coração
pétalas de sangue de uniões selvagens
descubro-me na curvatura de mil coisas
nenhuma delas me deslumbra mais
monstros, pó, desenhos de um só traço
mundo vasto fósforo efémero
os estames e o estigma
centre e fuga e ilumina
Ícaro sol fortuna
sinto-me levado de arrasto
ou preso nesta varanda citadina
como se lá em baixo
estivesse a vida
do fino recorte do vento encaracolando
as paixões naturais que nos punem
há uma corrente estranguladora
talvez seja a mente castradora
sonhos diurnos de lábios entreabertos
para que as palavras de facto escoem
de dentro
como corrente curadeira de uma alma
perdida
da voz profunda soou
uma tremenda dor pela vida
a sombra tem o seu encanto, os olhos baços
de porte quebrado escarlate
porque estes lábios pertencem a outros mundos
as palavras ametistas exclamam
uma valorização futurista
que pode um floco fora de estação?
derreter-se no chão
do labirinto poético mortal
os pincéis secam sem lágrimas
confirmando-se a paixão de um pé outro aqui não


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