terça-feira, 17 de maio de 2016
hóstia viva
corpo místico
que recebe a alma em vão
escamoteando a realidade
na esmola de um suspiro
hóstia viva truncada por tábuas
machadadas na raiz de um velho gitano
a labuta da cruz nas suas próprias linhas
toma o verbo como pedaço de carne
e na clausura do poema sacrário
oferece-te
ingrediente mundo silencioso
filho do homem
na imolação de um coração teimoso
na sua aparência viva
na unidade de uma só paixão
o prato da balança pende
na expiação dos dias perdidos
quando a terra é dura
serão precisas mais palavras
vindas de todas as correntes sanguíneas
na abstinência de algo físico
Maria e todas as mães
que choram a partida de um filho
no cume da montanha dos partidos
é na perda que mais perto e mais longe
nos encontramos do destino
sangram bárbaros na labuta diária
a cruz da vida que nos atravessa
não há penitência em consciência
é real e violenta
mas venha a nós o Vosso reino
mandai um exército de poetas
que o mundo anda sedento
da cabeça aos membros
todos percorrem o caminho da indiferença
a humanidade dorme sobre pedras ruínas
adormece nos abismos da matéria prima
lascas soprando um vento cálido
a agitação dos dedos dobrados em punho
por osmose, a palpitação do coração
preso nesse momento de redenção
na palma da mão de Deus se entregam
campos austeros de intoxicação
somos papoilas flamejantes
nos filamentos de um ópio
que não mais errante
o laconismo de toda a expiação
desses dias vividos sem comunhão
nesse porto onde desafoga
um coração minguante
com a ironia das coisas dolorosas
escreve-se
nos pergaminhos da coragem
foram inventar outro porto
foram invernar para outro sonho
que flutua antes de ir ao fundo
esse corpo que respira sozinho
guarda-mór da linha austera
das altas esferas absorventes
tudo ainda te espera
tudo ainda te acredita
no último quartel de vida eterna
poeta
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