quarta-feira, 15 de junho de 2016
marchas mortuárias
uma oitava a cima
o oráculo dos sonhos
do completo vocabulário de gravuras interiores
do revelar de películas a preto e cinza
ousam os fados a alma acolhida
a lua é mentirosa
quando as sombras se levantam e caminham a teu lado
do arquipélago narrativo - o que nos espia
o rasto do silêncio que cruza o céu
da terra natal dos espíritos
o ciclo completado dos vivos
campos de neve e porcelana
das camélias penduradas no cabelo
uma borboleta milagrosa sobrevive ao embate
a cúpula de mármore face lisa
o semblante de um coração partido
a tentativa honesta de reter uma gota de chuva
são as mãos que são de areia
da plumagem de um pássaro selvagem
vontade de vaguear pelas ruas sem luar
desertas de silêncio a respirar
há flores que acordam de noite
para irem a parte nenhuma
do consolo de um rio que espelha nada
o contágio que sacode o grito para longe
reformando-se na madrugada
dos rumores do que falta na paisagem
há qualquer coisa que falta na paisagem
do retrato da ancoragem de ninguém
começam os ruídos da pensão
gemem homens de coração na mão
também os recém chegados sofrem
terrores do desconhecido que se deita com o demónio
há um céu sardento que nos repudia
do limbo triunfal do fim dos tempos
seguro dos humores que se estendem pela encosta
dedilhando nas janelas desvirtuadas da cidade
o altar é o leito dos abandonados
riscam espaços desenhos nos defeitos do cimento
todos os momentos belos já partiram
em rapsódias de corredores malignos
derramam-se os passos
colunas de vasos sem flor
das vidraças tricolores quem nos espelha
os espíritos berrantes que ficaram na fronteira
quando meus olhos me olham sem emoção
a vida vai desfilando marchas
do pó de arroz mortuário
sambam as falas nesse caminho de sombras
e aos poucos se vai desaparecendo
na memória que os dias de sol refazendo
e as gentes se debruçam nas janelas
para enfeitar as aguarelas reproduzidas à escala
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