segunda-feira, 27 de junho de 2016

ossos de porcelana



como é triste para o poeta
o som das palavras
do ofício asfixiante de recria-las
obediente da liberdade
onde tudo é palpável
alinhavando horas
e a procissão já no átrio
de toda a articulação
do tempo contra o tempo
Ia triste.
e sem mais preâmbulos
a palavra resolve-se
quedou-se o pensar
ouvindo contar de um acrobata
que o céu tinha muito mais para contar
que o equilíbrio é uma ideia
para repousar
na retina, na veia, categoricamente
ser ou não ser
chagas num corpo de vidro
que se quebra e desfaz ao assobio
atirar-se às suas cinzas
nessa provocação caduca
de energias flutuantes
de corpos cópias sem asa
mãos e espírito de sacrifício
homem-massa apóstolo
mosaico, prisma, rótulo
feridas para ângulos sem título
ossos de porcelana sem carne
em contratempo ideias desnutridas
vagas antigas de melancolia
o fato que nos vestem depois de morto
ao poeta militante da morte
na obrigação de explicar ao mundo
os trópicos da paranóia
a casa decimal dos delírios
os co-senos perturbados do animal
quem não conhece senão a língua do afecto
chegou antes do tempo
sedento do tempo de amar
mas já vai alta a madrugada
e a procissão chegada
e o santo de volta ao altar
fica uma garganta cansada e seca
de tanto apregoar o teorema
para bestas sem poema







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