segunda-feira, 4 de julho de 2016
génese
redes de fissuras, frágil
amostras de conjunturas impressionistas
tal o papel das feridas
no maciço tempo que partiu
holocristalina alma
da camada superficial, litosfera, a pele
rocha, pedra, substância, carapaça - dura
a vida eruptiva de geodinâmica interrompida
uma paixão violenta pelo céu
antropofagia terrena, consumir-se
andam os passos acorrentados
o mundo está por nascer mudo
nas espumas brancas do mar
na frescura de um mergulho
no abrir das velas
para não se regressar nunca
o mundo dos que sentem
dos chocalhos da mente enferma
dos ventos fortes do despir-se
da palavra saudade
regressar ao berço, ao ventre da terra
que a viagem seja serena
dos andamentos aflitos e das penas
a sombra do silêncio
denso esse sentir resiliente
que não admite corrente
o que nos fascina é o voo
em toda a sua extensão
sofrer e amar
esse momento de temperamentos
onde a voz de deus
vai e vem
do desespero ao sonho
a queda, é consequente
paredes, cemitérios, tectos caídos, ruínas
que passem anos que nos sedimentem
no esquecimento dessa sede de mentira
quando nos foi prometida a vida
depois um canivete
com que nos riscam e testam
essa redoma de vidro por onde nos espreitam
de volta ao sistema para cristalizar
vejo hexágonos
giro e manipulo objectos de dispersão
em toda a perfeição morfológica
não encontrei senão rochas, pedras, amostras
a alma parte sem alinhamentos
separa-se dos átomos, dos traços das faces
dos corpos que já não servem a deus
para um adeus breve
que não se consegue definir
na geologia da mente
nasce apenas
com a recordação do manto de emanações maternas
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