quinta-feira, 21 de julho de 2016

Phantastica poesia



infusão, vácuos digestivos
a garganta do mundo
à lupa da poesia micro crepuscular
a luz focada à lente convexa
há uma fonte inesgotável
de favos vocábulos que querem ser células
células vivas
-só me apetece subir às árvores
retalhos da epiderme da rã
somos camadas de cebola
do estado inalterado das coisas
o osso dentro da carne imaculado
dos músculos contraídos da morte
a distopia reservada ao perpétuo
mergulhar-me no vulto do ser
na surdina incómoda grosseira
obsceno ou domado
na disposição de tudo ao contrário
os pássaros parece que andam à toa
abanando a cabeça em pequenas passadas
dando voltas
saber exactamente o dia e a hora
porque nós já não nascemos em casa
das janelas da mescalina
a linha marginal da utopia - estou vivo
ou felicidade artificial - vivo
da vigilância do banal
Meca para uma mente vedada
da contracção da oração - em ti vivo
como se espera por ninguém
na hora extraordinária do além
visualmente procuro pela palavra-pássaro
não sei se é ela a fachada das casas
ou a pedra que falta na calçada
mas nós já não nascemos em casa
nem as fachadas nem as calçadas
nos pertencem
só a palavra encarnada da indústria
incontrolada dos sentidos
esse mundo-pássaro honesto
o mundo em que se vive
o mundo em que se sente
das linhas marsupiais
elevarem-se os beirais
dos sonhos vulgares erguerem-se
novos voos
para atravessar arco-íris de cinza
porque a abstracção não carece de cor
a escrita lanterna mágica´
projectarem-se nós fantasmagóricos
da transparência a partícula íntima da beleza
do éden desaparecido - porque partimos
não nascemos em casa nem morremos dentro dela
somos um todo pedaço de tudo
como os olhos da velha que me fixam
não sei se em mim o final da rua
se em mim o final da sua, vida
esses olhos perturbam-me
desse mistério que não tem mistério
os olhos penetram-me de concreto
será que pensa no que penso?
- só me apetece subir às árvores
...

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