quarta-feira, 8 de junho de 2016

um verso atravessado


cisma-me um luar ainda o dia a raiar
na sobriedade mestra de uma frase
no arame do fulgor dos estames
o negro desmaiado das violetas
sobre a terra o sinistro se coloriu
unhas aveludadas um espaço sagrado
eu quero a luz! eu quero tanto a luz!
de todos os solfejos o sol amplificado
só me lembro de todas as manhãs frias
onde me deixei petrificado
voltam lacrimejantes os passos ao coração
não fizeram senão trovoadas secas
do mais lúgubre rompendo o verso
basta-me um juramento franco
mordendo o frio das palavras
calidos aromas caminhantes
levaram-me a todo o instante
alucinando de ser saudade e areia
murmuraste: quero-te sereia
o verbo penetrando a veia
do peito tantos pontos de geleia
o mar se afunda em tormentas
ando gladiador há tanto tempo
que a força que me condeno é poeta
nublando estacas no alcatrão
penso que me raizo, mas não
parece que me deito sempre a descer
e o corpo desnivelado a endoidecer
cândidas candidatas a imagens
se tendo a adormecer
oh mas essa nota eleva-me, sonha-me
o silêncio das noites imperiosas
nas linhas que me deixam sem fôlego
a poesia é mãe de todos os tristes
o aroma de todos os nomes
por quem não chamaste

esconde-te, refugia-te, guarda-te
um santo repudia a tua lágrima
o poema é um caminho sem volta
atravessado pela revolta





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