quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A cidade dos outros


troncos oníricos que se projectam
pelos corredores sombrios
nesse abate de planos
sóis amarelos subindo as avenidas
calhas que se orientam ao céu cinzento
gatos vadios fantasmagóricas esquinas
carruagens alegóricas de outrora
num entra e sai da alma
a cadência do bater das asas
voos que carregam as margens
num passeio desquebrado
abandonei-me num balcão, doca, espera
nesse ângulo onde me vejo
numa longa travessia entre mim e o espelho
meter-me o anzol à boca
amarrar bem a âncora à roupa
a cidade é feita de linhas
numa dança de ondulação corrente abísmica
todos os dias me atravesso de submarino
nesse corpo carga para a frente e para trás
erguer os olhos aos penhascos de betão
e perceber que só depois da partida
começamos a viver


Sem comentários:

Enviar um comentário