quarta-feira, 12 de outubro de 2016

sombras de Hades




há um corrupio esférico
no labirinto de Creta
um peão na mão fria subterrada
mãos raízes pálidas
que nunca conheceram raios sol
soa a melodia do adeus
arco de costela contrariado, desafinado
ateado da cabeça aos pés
erguendo-se das esquinas
acidentais dos ramos vegetais
imaginá-lo parado
entre os olhos e os muros de fresco
a terra depois de lacrimada
correspondendo ao apelo da vida
suspirar de cansaço
da faina repetida do eu fado
desta tarefa escolhida de martírios
para poder separar o joio do espírito
para oferecer um poente aos mortos
homens que não conhecem o reino dos céus
pálidos e obesos na hora redonda
quando a terra pára
e a vida acaba
a imagem que fica, de ti jovem
ainda pronta ao rebentamento
de uma última palavra
das esporas da fúria do desânimo
dessa mãe terra enlutada de polén
da memória dos flancos e solavancos
do revirar dos ramos de buscas a braços
que se dedilham madeixas de cinzas
dos arcanjos sem origem
quem nos abre as portas de Hades
se dos contos nos mentiram
e da barriga não nascem espíritos?

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