quarta-feira, 19 de outubro de 2016

lá das colinas


mundos, tantos
para vos engordar de um alimento latente
inumano, extraordinário e sanguíneo
de escudos e intuitos seduzindo pedra
aquele que carrega nos ombros
descobrir-se perante deuses sem nome
peão, atirado às vestes da escuridão
vigilantes, do assassínio do primitivo
do rosnar atento da existência sem grito
no mergulho, encontramo-nos despidos
terras pardas de terraços antigos
almas pedintes de novo e acaso
no macabro de estranhas vozes, polidas
pelo vigor da memória do mundo
banham-me as raízes de próprio material desaparecido
emanada do gesto enfático de ser nada
e tudo sentir sem um pasmo
todo o último poente tem o seu mistério
no vago navego sem corpo
tudo aponta a um verso extinto
contra a criação suicida de ser pássaro dócil
erguer as folhas profundamente vivas
e queima-las,
gravadas debaixo da pele estão
incluir-se na água, no fogo, na exaustão da terra
e nos moínhos de vento ser janelas
caem estrelas sem que as vejamos
o que separa uma margem da outra
é a distância com que nos amamos
espectral, carnal, ventral
metálica atmosfera linfática
o magma que nos transforma em pedra
vem de dentro, vem de dentro
vem do nada
desejo ser peixe fora de água
respiro porque foi assim que fui criada
o peso de tudo o que carrego não me diz ordem
o resto que em mim vasculha, avança pântano
de uma ponta à outra, eu sou, vândalo
inverte a marcha, anti-maré, da energia solar, tem fé
acima das montanhas, de dentro das entranhas
do automatismo, da aridez das colinas donde venho
há um não sei quê de sinistro, de in vitro
de sentir sempre mais que semi-vivo
de me contrariar, de me insistir sempre a virar
porque há-de o vento dizer-me
para que lado hei-de ...ser

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