domingo, 21 de maio de 2017

a ceifa da dor


os dias tristes da jorna
para o cáustico do sol
de amanhã febril imenso
os céus subindo demais
temendo demais
quão vago ou tão raro
um astro festivo das entranhas
do remoer de homens e castigos
quebrados pela cintura
trazidos em suspenso
como braços da era de deus
são as caldeiras e as mãos cheias de terra
o afago das nuvens as brasas dormitando
a lâmina que nos ceifa desarmónicos
com a leveza do fumo esbatido
homens abandonados no escuro
a luz talhando os contrastes
para a intimidade de mundo
lágrimas lavradas de orvalho
na dureza das manhãs
para plantar o arrebatamento
da orquestração dos espaços
o dia multiplicado de ausências
baloiçam as cabeças no desafio constante
da planície da tristeza
desse desdobrar, arfando no ar que se respira
as mãos que tremem
o suor que escorre com a vitalidade
do desaguamento das ânsias
segue o voo dos pássaros quietos
a quebra das nossas searas
o corpo sedento do sol que rompe a noite
no arrasto das luzes
o chão mergulhado sem tréguas
para um chão já plantado
o eco das chamadas de dentro
erguem-se esses braços dos meus
o homem volta-se às colinas
galgando alturas e horizonte
os dedos descarnados de alimento
capatazes de tudo
para a labuta do sangue que foge
para fora de tudo
as foices do fim do ciclo
do vaguear do pêndulo sem fim
riscando o silêncio a cada esgar
o sol é um clarão que não pede tréguas
valas para tendões de poldros
tudo é céu aberto e selvático
rompendo as pálpebras casulo
as foices reflectem a alma da ceifeira
as mãos que escorrem de sangue
para o voo abstracto da dor



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