domingo, 7 de maio de 2017

linhas puras


contemplo esvoaçantes
os tapumes que revestem as paredes
dos estaleiros verticais
uma gaivota perdida na passadeira
moscas sobrevoando palmeiras
espectros às janelas
pérolas desfiadas de terços
de andarmos nauseados no labirinto
nos juncos da memória
andorinhas retidas em estação alguma
para levitar a um palmo do chão
há o contentamento das coisas vagas
para me estranhar
para me tecer de um aperto
desse leque que se abre de nebulosas
falências
imagino observadores
anjos revestidos de pele encolhidos
nos extremos das linhas
pontos de fuga
às beiras dos extremos das nuvens
a alvorada levando de arrasto
esse sonho que não nos continua
que me querem as ladaínhas
revejo-me nos rostos espelhados
que a todo o momento abandono
nos dejectos de um gato
numa fenda no telhado
por onde rompe a copa de uma árvore
no combate à dor que já nem sinto
na impureza astral de um mapa ardido
vago como fantasma no prolongamento
das palavras
e contemplo, com tempo
tudo o que fica perdido nos meandros
do invisível

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