segunda-feira, 29 de maio de 2017

o poema entornado


vou subir mais um degrau
para mais tarde não ser capaz de dizer adeus
os cães que ladram ao seu próprio reflexo
vou esperar que a noite me desça sobre a sombra
não deixar rasto como se apaga um astro
o som da avaria do motor, o esquentador
o martelar da minha alma contra o tecto
o descampar de um cemitério a céu aberto
vou subir mais um degrau
engolir-me pela cal da parede desaparecer-me
matar todas as vidas que me põem doente
deixar-me um só corpo onde não habita gente
vou subir mais um degrau
que o fundo da garrafa tem depósito
e no fundo das escadas bebi o primeiro trago
vou tombar por aí, talvez rezar
pedir às pedras da calçada que me deixem
encontrar-me num buraco
quero saber a que sabe ser atravessado
por tanta gente que não se sente
vou subir mais um degrau
e depois se me vires, não me cumprimentes
...não terei mais dentes para te ver sorrir












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