quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
choros do vento
é o sal da lágrima que cura a ferida
para o matraquear da máquina
essa parede de fóssil vivo
para o riso histérico de uma carcaça
a criatura dissimulada da própria morte
o desgaste oleoso de um relógio novo
e afogar-nos num só golpe de pesçoco
sugar do polegar da criatura a beleza
que avança pelos cascos da consciência
ao travar da luz, meditar no topo escultura
alimentar os cães com carne crua
o céu interpretativo adesivo
para escutar por detrás das portas
o gemido
e um corpo recém-aceso
um instrumento fora de sítio
gene ostentação de imagens imortais
todos clandestinos da forja divina
a condensação do movimento natural
o fumo instinto que brota da boca
para flutuar num aquário seco
nas costas subscritas de um anjo
nas paredes mosaicos de um tabuleiro
onde se estende essa terra oca
dos lábios um rebordo de um beijo
vejo cabeças de hidra reviradas
nos dedos delgados do sonho
e das palmas raiadas planar
cães vagueando pelas estrelas sintetizadas
a mente ficando límpida da fúria do abstracto
para a revelação da ausência dos deuses
no fundo de um rio calcetado de aço
há um espelho retorcido por onde passo
é poro, pedaço, pano de mundo amordaçado
o exorcizar do real sem fonte
te recordas do horizonte?
para dar corda ao mecanismo
o arquétipo da escuridão cá dentro
rosários para despir ao contrário
ornatos acordados de fresco
pelas caves da mente
onde cada paz tem a sua campa
as folhas caem na atmosfera
tronos de pedra adormecidos
o cair ensurdecido da ressonância do vento
que por baixo da pele prolonga a morte
as nossas mãos são lendas entrelaçadas
as casas abandonadas arquitectam-nos
pontes de existência para uma nuvem contínua
um bosque vivo na ponta dos pés
tudo tem olhos refundidos
aquieta-nos
espirais por onde saímos sem ter entrado
remexem dentro de nós via satélite
no décimo andar de uma copa despida
para a ruptura dos hemisférios métricos
choram-nos, lágrimas doces que não curam
rostos de pedra
passos de musgo
linhas de água
a descarga viral
em gradações de poentes
para repousar no eixo imóvel da terra
nossos corações raivosos
de quem não sossega
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