quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Preferia ir
em expedição
subir de balão
sair do domínio
da total estagnação

Desta odiosa maquinação
desde o começo da história
e nem vinha de longe!

Tudo isto como se vê
se indispõe comigo
como se fosse um destino
total calúnia e castigo

De tectos baixos
fui raspando daqui e dali
como uma aranha
governanta
me enrolei febril
na curva da cabeça
procedi de ofensa

O dinheiro da velha
da minha carreira
independente natureza
(se tudo corresse depressa)
e ser forçada inquieta

eu até dizia:
que maravilha de vida!

Mestre-escola
deitei mão
mau, vil, invejoso
há muito que minto

 E o rapaz parou a meio da rua
sons de clarinete e violino
sombrio mas cristalino
-faça o favor de o pôr no sítio
sempre lastimei o precipício



A sua ideia seduz-me
mergulhando
Como teve tempo de..?
Em desabafo
Tudo são cantos
e em mim redondo

Incalcularam-me
por testamento celeste
por acrescento
ou de empréstimo

Em contos largos
dormi outrora
trapaçando abraços

E o silêncio
fisionomado
absolutamente necessário

O manifesto é prejuízo
em entrevista confessa
mil rublos
e diante da ociosidade
-somos vultos

Esburacado o meu casaco
atirado o relógio à parede
Tomo um café, olho
ao insignificante fugido
-que prazer tens tu!




As coisas só existem
porque as sentimos
absoluto e premeditado
confundido desorientado
que circunstância!

Houve um caso
parecido com o exacto
singular lhe dá a fé
autêntico alucínio
acusou-se por falso
decidido esmagado
-ou quase

Nas costas do sofá
curvado

Referindo-se à enfermidade
no desejo de a interrogar
-Aqui estou

As horas são incapazes
a queda no tema de conversa
a dama da inércia

Assim me baloiça
o corpo

Afadigado
metade pra cada lado
porque as palavras me deixam
como que embriagado



A par de nada

Só dunas
que a mão amacia
muitos quilos de peso
que se encostam a dentro


Rebolando
cabelos na bacia
a manhã que rompe
apreensiva

Temia por excesso
de imaginação
gentil respiração
de fronte ao espelho
o heroísmo

De propósito
cortando na pele
a custo de pouco
indo a caminho
do fosso

Repudiando
a vaidade
de um adeus
ingrato

Tanto tempo me levaste
para crescer

Faz frio lá fora
não faz?

Entre
a meada e o desgraçado
a geada e o embrulhado
dessa morte
no entorpecimento
se perdeu um norte
um qualquer
por atropelamento
do momento
por dentro

E ela não quer partir
rapidamente
se atavia de tudo
que energia
que vem do mundo
agora
a sinto como tudo!


Um Poema

Protege estes órfãos
um Poema
à escala de órgãos
de ordem pessoal
enteados adjudicados
passaram-se...segundos
dentro do quarto

Em meu entender
como assim dizer
o vinho da madeira
a desgraçada viúva
o último
pedaço de pão
nesta refeição

Basta-me olhar
racional e harmonia
por direito, se sofria
o comportamento
sem respeito
meus olhos ao vento

Como um machado
e descer a escada
perder-nos das coisas
ao de leve, lambido
magistrado prossiga
Já se faz justiça

Um caso patológico
de amor e ódio
sem estar de vigia
e não ocultar
do fundo, a poesia

Não o acredito!
borboleta de arrepio
o tempo da volta
se pega a moléstia
hesitasse na frase
e o que fica
é o mosto da birra

Daí o tal enigma
diferente cuidado
fugira-lhe da boca
escorrendo pela roupa
a resolução inabalável
Que bicho te mordeu?
Esse tal de poema
que em mim adormeceu


sábado, 23 de novembro de 2013

Meu palácio paterno
faz-me perder o sentido
resistindo
correndo pelas mãos
entardecida
as linhas da ira

Querida Estrela
tão negra de pó
velha e respeitada
pátria modesta

Orgulho do passado
canção do ÓóH
corpos de claridade
pasmado

Sou só uma criada
da mão mal educada
E saí satisfeita
sem o menor brilho
social
dessa alcunha
amarfanhada folha
antonomásia a Tal

Caneta sinistra
democracia de rua
em traje de passeio
apalpa me o veio
novilho estilista
engomado
de total idealismo

Porra, que é isto?
Jogando pião
Tamanha ingratidão
ao coração



Estirão

Se eu morri,
porque não vejo
o céu ou o purgatório?
Cá e lá são o mesmo
ébrio e acelerado
acaso forjado de calejo
rodeado de chumbo
de cancros taberneiros
uma legião de turcos
rixas na lotaria
para no final
acabarmos todos
na padaria

Bem
o ajudante de enfermeiro
do mundo material
a terra cheira a cadáver
o estertor
em forma de mulher
astral
o pensamento é forma
apertando nós
relâmpagos
"como é aí desse outro lado?"
já sentindo empacotado
e na ardósia
no alvoroço das cinzas
um arrepio inexplicável
de o saber antes de ser

São os ossos
a fera do homem vivo
do vício bailado
um burro e um palácio
e o pretexto é acaso
animal flechado
finca-pé ora fica
que a porta é vagabunda
ao fundo da memória
uma corda de cânhamo
Lua-Cheia
de encanto


Desconcerto

Espetara-se-lhe a ideia no crânio
como prego de ponta ferrugenta
etéreo e absoluta térrea
irmã gémea do sono

Tal cordão luminoso
entranhado até ao osso
desperto e sôfrego
ao roer dos vermes
sonâmbulos imberbes
onde um homem
corrige outro:
-génio, só morto!


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Ideias Op.a2

No lavadouro público
arregaçou as mangas
e dos punhos
manchas

-SE a melancolia é um vício...

Nos campos de aviação
correndo campos de lírios
a silhueta
ruído surdo

No dia 1 de Janeiro
por cabo telefónico
Jesus,
és americano!

Banzai
estavas preocupado
que necessidade
do fim

O Prince
Churchill lia
mozzarella de Búfalo
guelrando-lhe
de combustível
o aparelho sensível

-De posição de gatas...já!

Uma velha metralhadora
encravada de dores
cavando no solo
a sepultura do sargento

Fortalezas voadoras
o peito a dentro
4 minutos mais tarde
um post-it:

Fodi-TE

domingo, 10 de novembro de 2013

Teoria Geral do Amor

Não vale a pena vivê-lo em partes, pela metade, tentar fugir dele, controla-lo, nega-lo ou sequer tentar que ele mude, que ele cresça, que ele seja. Não vale a pena contentarmo-nos com um sucedâneo daquilo que é a única forma conhecida e original dele mesmo. Não porque estamos sós, não porque não encontramos nada melhor, não porque o tempo passa e nada acontece, não porque o passado já não volta ou aquela pessoa está longe ou não nos quer. Não vale a pena se a razão é essa. Para isso mais vale estarmos sós. Porque quando ele aparece nós sabemos, nem todos passaram ainda por essa experiência, porque não acreditam nela ou porque acham-na uma fantasia idiota, ou porque lhes passou ao lado e confundiram os sintomas com outra coisa, ou ainda não tiveram essa sorte. 

Na verdade, quando ele aparece, de facto parece que estamos mais doentes que saudáveis. De repente tudo o que conhecíamos como nosso, como familiar, tranquilo e seguro, desaparece. O nosso mundo perde o chão. O nosso estômago embrulha-se e o nosso apetite vai-se. A ansiedade e a angústia dentro do peito são tão grandes que mal conseguimos respirar e nada mais tem importância na nossa vida senão o momento em que estamos com o outro. Já não nos conhecemos e nem sabemos bem como nos mostrarmos ao outro. Já não estamos seguros nem confiantes e por isso tudo o que fazemos são disparates género ridículos. Deixamos de ser um só para sermos dois, dentro de dois, simultaneamente. Abdicamos da nossa estrutura e dos nossos hábitos anteriores na necessidade do outro, ao encontro dele. E fazemo-lo com o maior dos prazeres, porque fazer o outro feliz é fazermo-nos felizes. Nada disto é cor-de-rosa a tempo inteiro, precisamente porque é um mergulho no escuro, sem asas para mudar a meio do percurso de direcção, sem discernimento que ilumine a certeza do caminho, sem garantias de nada que nos traga de volta da mesma forma, inteiros. E porque tudo isto é doloroso, nem todos sabemos que o estamos a viver é amor e muitas vezes viramos as costas àquela que pode ser talvez a única oportunidade de o viver na sua real plenitude. Há quem o encontre cedo e o reconheça e há quem tarde ainda o procure. Mas a maior parte contenta-se com o chamado amor de conveniência. Há quem já o tenha vivido e pense não voltar a vivê-lo. Ninguém disse que só o sentimos uma vez na vida. Não é assim tão milagroso mas também não é vulgar. 

Dizem que ele pode ter muitas formas, é mentira. Ele tem uma só veste e uma só cara. Tudo o resto são afectos coloridos que apenas se aproximam dele. Dizem que ele é tranquilo e doce e fofo, é mentira, ele tem tanto de amargo, de destrutivo, como de incondicional aprisionando-nos numa cela onde já não pode estar só um. Dizem que a isso se chama paixão. É mentira, a paixão é um estado de ilusão, passageiro, que arde até ser extinto. Ele é luta uma vida inteira, mas é uma luta dentro do próprio, de não querer deixar de ser para passar a dar e receber. Uma luta para conciliar todos os tais sintomas doentios com o apaziguamento entre os dois. Uma luta para que os nossos defeitos e os defeitos do outro não passem a ser a única imagem ao espelho. 
Todos amamos de forma diferente? Não, a forma é a mesma, mas na verdade nem todos amamos de facto. 
Todos procuramos o mesmo? Não, nem todos queremos vivê-lo, dá trabalho e como disse é incómodo e portanto, chateia. O amor é uma chatice, é. Quando o nosso umbigo nos chega e dedicamos uma vida inteira a retirar-lhe a teia de aranha de dentro, polindo-o e enfeitando-o para cá ficar emoldurado no museu das vedetas egocêntricas. 

O amor tem na verdade um pequeno grande defeito, é que nem sempre é correspondido e aqui é que roça a imperfeição divina. Sim, é um afecto que transcende o próprio homem mas que tal como ele, não é perfeito. E não devemos aqui confundir com engano. Não há engano, há desencaixe. Ás vezes a nossa chave não bate com a fechadura do outro, o que não quer dizer que o que sentimos por ele não seja amor. Lidar com essa desilusão é desastroso e ao contrário também. E depois de uma vez vivido, fica o trauma do regresso, de voltar a acontecer, e é isto que muitas vezes faz com que a fuga nos seja mais confortável ou seguir por variantes de conotação afectiva mais leve e tolerável. 

Dizem que antes de mais é preciso amarmo-nos e só depois procurar o amor no outro. Errado. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. E o amor não se procura, encontra-se e bem que o sabemos quando lá está. Muitas vezes é o amor no outro que vem então compensar o amor ao próprio que provavelmente até veio de uma infância de amor defeituoso e que quanto a isso meus amigos, bem podem fazer terapia que nada há a fazer, senão amar um outro, podendo aqui ser si mesmo, mas um novo si e para criar novos sis, é preciso que muitos outros o amem. O amor partilha-se, não se faz crescer sozinho dentro de si a partir da não matéria. Amar o próximo pode ser mais elevador do que passar a vida a tentar amar-se a si próprio. Não é um pensamento cristão, é um princípio da natureza, nada no mundo está sozinho e isolado, portanto, não faz sentido essa procura desenfreada pelo amor próprio ao próprio, isso é um produto das sociedades modernas individualistas, onde todos temos de ser pessoas de sucesso, capazes e autónomas e...lá está, independentes. Mas independentes de quem? De quê? Formam-se as famílias unipessoais, onde um T1 é até espaço demais e é nos animais onde vamos acabar por compensar esta ausência caindo no ridículo de passearmos coelhos de trela. 

Da teoria à prática estão dois passos: acreditar que ele existe e deixar que aconteça. 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Um dos meus grandes desejos era saber tocar piano, quer dizer eu sei mas de tal maneira pouco que é como se soubesse ainda apenas as letras do abecedário sem as juntar em palavras. Quando era pequena ia às aulas e pedia à professora para tocar só pelo prazer de a ouvir, fazia-me impressão a feitude da minha inaptidão ao ouvido. Então eu pergunto se realmente eu gostaria de saber tocar ou se sou apenas efusivamente escrava do ouvido? E não será assim com tanta coisa que pensamos saber gostar? Falamos de prazer de receber e não de prazer de fazer. Talvez o amor seja qualquer coisa parecida com isso. Do género: ela gosta mesmo dele ou do que ela gosta é da maneira como ele gosta dela? Ou, eu gostava tanto de ir viver para o campo mas será que é mesmo isso ou apenas preciso de umas férias longas no campo? É aquela linha ténue entre a fantasia e a realidade, ou a expectativa e a constatação. 

Então, arrumou as perguntas. Que não serviam para nada. Cronicamente distantes da verdadeira necessidade do momento, crónicas de verdades que nem a si lhe interessavam e que não lhe esclareciam momento algum. E lá na nota do topo, a última da escala que essa melodia alcançava, baloiçou, pendeu e...vertiginosamente, desceu para calmarias menos fervorosas. É assim uma epilogia. Encostada na contra capa. E depois vem a parte em que mais serenamente se embeiçam as duas contra correntes, delicadamente convergentes e ausentes, tudo na mesma camada cutânea feminina de uma folha branca. 

E se brinca de balões e gelados de cone. 
Mas e há sempre um mas. Saber que tudo isso é enrolar e pastilhar. Que sorriso malandro é de outro plano. O fato de palhaço ou a pomba do mágico. Saber tudo cansa ainda mais do que não saber nada. E que tudo assim bem fragmentado e espalhado na cabeça tem mais jeito, aquele do indivíduo que só está perdido mas ainda está em movimento. Que se move em estilhaços atirados para todos os lados. Crescendo a probabilidade de acertar no alvo. E é nessa viagem entre a mão e o ponto ao centro, que está o engodo e o desafio. E então já sabes se gostas afinal ou não? Penso que a resposta é de um tédio profundo.  
Porque nada do que se passa à nossa volta merece nem o nosso sofrimento nem a nossa morte...a vida deve ser tomada como uma vingança. E estas palavras nem eram suas, foram-lhe dedicadas muitos anos antes de as compreender. E aos poucos, de dia para dia, a sua força retomava o lugar de sempre. Ficando para trás a culpa, a tristeza e todas as lágrimas que já não faziam mais sentido. E crescia uma vontade de começo, de construir, de procurar pelo caminho, acreditando haver ainda um. Nada nos prende a lugar de ausência de nós. A coragem. Em falta não leva a lugar algum. Mas a coragem sem a esperança é um tiro no escuro ou na própria cabeça. Porque da esperança nasce a vontade organizada. É o peito, este peito que às vezes parece saltar de dentro das vértebras. Vértebras? Teremos o coração afinal entre as pernas? Que noite fresca para se caminhar, exclamou. Enquanto ando o pensamento desenrola-se como se passadeira fosse abrindo um novo horizonte. Amanhã apetecia-me ficar na cama e cagar-me para esta merda toda. Porém, a vida não se vive na cama. Pelo menos não a tempo inteiro. Novo ataque de riso. Fenómeno que ultimamente lhe era familiar, chegando muitas vezes com momentos retidos de situações minimamente ridículas e completamente loucas. Estarei a enlouquecer? É agora que vou queimar o último fusível? Antes rir que chorar. 

É no surrealismo que finalmente se consegue a distância necessária para apagar de todo a neurose. Andamos naquele remoinho de vai e vem, ruminando picando os miolos para quê? Não há de todo um nível de compreensão possível. Acontece e pronto. Aconteceu e foi. E depois, em frente. E depois, qualquer coisa. Sinto que faço a espargata de cada vez que tento ser. Porém a fome é igual: a pressão para tentar. E não deve tratar-se de incapacidade ou estupidez. Antes, um empurrar à força para aquilo que não é. Se eu fosse teu terapeuta dizia-te: mata-te ou vinga-te! 
Apetecia-lhe fumar na cama. Mas se ele voltasse não ia gostar. O scenário tinha apenas odor, de livro empoeirado. Ai que a minha frase é mais longa que a tua, terminas sempre sem doçura. Uma polca onde se desenrola uma história entre uma porca cor-de-rosa e um ouriço piolhoso. Ainda não te tinhas lembrado disso pois não? Ela virou a página e parou de ler levantando o olhar. Estava assim a começar. Chegando de uma vontade miudinha não satisfeita. 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Vamos
virar tudo ao contrário
fazer de conta
E que olhando para trás
nada nos arrepende
E que até o tempo
foi e só sinceramente

Trauseuntes. Prodigiosos.
E completamente odiosos.

Que
tudo isso não foi em glória
na amargura do afinal ou se

Sabes,
que nem todos os dias
somos verdades

Mas
que como milagres
acontecemos
de vez em quando
ser encontro



domingo, 3 de novembro de 2013

Não é preciso viver mais nada para que tudo se transforme em poesia.

Guardo-Te no bolso

Calma, calma ...calma..que as bolachas não se fazem mais depressa porque estamos com pressa..shiuuu..nada disso...ele sentou-se e olhou para dentro do forno ao fundo da cozinha. Há quanto tempo que não se encontrava para dentro? Numa corrida desenfreada para empurrar a baixo do tapete o que lhe remexia como um foguete de impaz. Meramente um acaso ter-se cruzado com ela nessa tarde. 

Quando cruzou os olhos numa montra e ela olhava um vestido de cetim azul petróleo. Deixou-se ficar cuidando não ser visto. Como era delicada, as mãos pálidas acariciavam o tecido lembrando-lhe momentos adormecidos quando despidos ela lhe dizia estar ardendo..assim quietinha? Assim mesmo. Descalçando-se para não acordar as cegonhas, entrou na loja e chegou-se às suas costas. Abrindo os braços, fundiu-se nela. A cada gesto seu, o mesmo. Como era intenso esse azul que lhe cobria o corpo frente ao espelho. E por dentro do ouvido falou-lhe: és linda! Ela sorriu mesmo sem ouvir, encantada de si procurou pelo par de sapatos que melhor combinariam. Aqueles, quero aqueles na prateleira de cima. E a mesmo melodia que há tantos dias murmurava dançava baloiçando a aba do vestido. 


Vamos? Não tens frio assim vestida?
O sol caía escorregando nas pedras da calçada o dia. Hoje a noite é de quem souber escolher as palavras. Debruçaram-se, a cidade tal pinheiro de natal, piscando galáxia de candeeiros ou ponteiros de momento. Quero provar da tua boca a que sabe isso do amor num beijo lento, vagarosamente discreto. 

Então saindo de dentro dela, esses berlindes rolando, coração a dentro, se fosses removendo esse pouco que em mim teme sermos assim. E na sua frente apareceu deixando-se ver. Os meus olhos nunca esqueceram. Ainda trazes estrelas no bolso. 

E a mesma melodia rodando a alavanca da caixa de música. De bicicleta passa o amola tesouros. Dá-me uma moeda depressa! Lima afia-me a alma. Agora estamos prontos. 

No forno tudo queimou, por distracção que o tempo avançou. Tudo se foi como se cru não pudesse mais co-existir no paralelismo que vontades contrárias escreveram. Guarda todas essas palavras de raiva. Chamuscadas essas bolachas são a prova de termos levado tempo demais. E que triste que é constatar isso mesmo. Correu à mesma rua, de volta à mesma montra e no lugar dela, uma boneca coberta com o mesmo vestido de cetim azul petróleo. Não há mais lágrimas dentro de mim, exclamou gritando: eu quero que todas as cegonhas levantem voo! Desfazendo-se envidrado, rolando transparente, como basuca ausente. Deixou-se cair pela rua, chegando aos pés de uns sapatos brancos. Ela tropeçou nele. Baixando-se, trouxe aos olhos três berlindes de laivos azuis e verdes. Recordou-lhe a infância, o jogo do buraco. Guardou-os no bolso para mais tarde. 

E na cozinha amassando a massa de manteiga, buscando o lenço ao bolso, cai um berlinde. Indo ao forno, as bolachas crescendo e numa delas...te recordas da princesa ervilha? Como podia esquecer, foi a primeira história que contamos à nossa filha.