quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Um dos meus grandes desejos era saber tocar piano, quer dizer eu sei mas de tal maneira pouco que é como se soubesse ainda apenas as letras do abecedário sem as juntar em palavras. Quando era pequena ia às aulas e pedia à professora para tocar só pelo prazer de a ouvir, fazia-me impressão a feitude da minha inaptidão ao ouvido. Então eu pergunto se realmente eu gostaria de saber tocar ou se sou apenas efusivamente escrava do ouvido? E não será assim com tanta coisa que pensamos saber gostar? Falamos de prazer de receber e não de prazer de fazer. Talvez o amor seja qualquer coisa parecida com isso. Do género: ela gosta mesmo dele ou do que ela gosta é da maneira como ele gosta dela? Ou, eu gostava tanto de ir viver para o campo mas será que é mesmo isso ou apenas preciso de umas férias longas no campo? É aquela linha ténue entre a fantasia e a realidade, ou a expectativa e a constatação. 

Então, arrumou as perguntas. Que não serviam para nada. Cronicamente distantes da verdadeira necessidade do momento, crónicas de verdades que nem a si lhe interessavam e que não lhe esclareciam momento algum. E lá na nota do topo, a última da escala que essa melodia alcançava, baloiçou, pendeu e...vertiginosamente, desceu para calmarias menos fervorosas. É assim uma epilogia. Encostada na contra capa. E depois vem a parte em que mais serenamente se embeiçam as duas contra correntes, delicadamente convergentes e ausentes, tudo na mesma camada cutânea feminina de uma folha branca. 

E se brinca de balões e gelados de cone. 
Mas e há sempre um mas. Saber que tudo isso é enrolar e pastilhar. Que sorriso malandro é de outro plano. O fato de palhaço ou a pomba do mágico. Saber tudo cansa ainda mais do que não saber nada. E que tudo assim bem fragmentado e espalhado na cabeça tem mais jeito, aquele do indivíduo que só está perdido mas ainda está em movimento. Que se move em estilhaços atirados para todos os lados. Crescendo a probabilidade de acertar no alvo. E é nessa viagem entre a mão e o ponto ao centro, que está o engodo e o desafio. E então já sabes se gostas afinal ou não? Penso que a resposta é de um tédio profundo.  

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