quinta-feira, 3 de março de 2016

do celestino ao terreno



a natureza concluída antes de nascer
entregue aos ciclos da paixão
o perigoso universo da continuidade
lavrada em páginas a não ficção
compulsiva febril sem fio condutor
o mundo alucinante da narrativa
para cada homem escolhido viver
nessa terra absurda de homens
travestida, transcrita, transmitida
a nitidez da asfixia erótica
aparelho de respiração artificial
passeando a escrita sobre a terra
o homem que vem na nossa direcção
o homem-futuro músculo reprodução
um enorme pedaço de chão
chamado terra e é tudo
onde pisam nossos pés?
o mundo secreto dos insectos
espasmos, reviravoltas, mundo cúbicos
solo firme
no fundo de um buraco
estendendo-se entre o céu e o tacto
o primeiro alimento do fogo
a respiração dos sonhos
restos secos, ramos, galhos
uma lei inflexível
invejar o invólucro de certos habitáculos
chamar-lhe chama
a queimadura profunda se houvesse epiderme
a ultima das fundições se houvesse matéria
antes que tudo se extinga
ideias selváticas avançam pelos seios
a abóbada celeste invólucro carnal
tanta terra de ninguém
onde caem as almas escalonadas
agora as puras, depois as confusas e os acasos
parte uma, depois outra ou a mesma
com toda a melancolia o começo da vida
o desaparecer no final de um dia
sumindo-se a película original
tanta terra de ninguém
a mão primitiva refazendo-se da ausência
da obra espiritual humana

apenas o que é visível tem o tom escarlate
esse coração que bate, bate, bate invencível

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