quinta-feira, 10 de março de 2016

objecto totémico


dormem sob esses telhados
os instrumentos da metamorfose
sonho abulia conduzindo existência
um homem que trabalha de dia
o plano vertical de todos os caminhos
deus em toda a sua clausura sofre
as portas do céu compreendem aqueles
que servem o chão
os mistérios do pensamento
que pressa temos em concluir nossas tarefas
que meridianos guiam nossos braços
que abraçam caminhos becos sem saída
entreguem-se braços nus
torturados por esse veneno vida
nativos do isolamento dos factos
rasgam-se versos bárbaros sem esperança
o que há de indomável na raça
para além de uma genuína força
em toda a mão apolíneo sonho
depois de todo o eclipse
erguem-se os estratros do veio imaginástico
dos cânones da metafísica
a linguagem das planícies
prometeu-se ir ao encontro
pedaços de paisagem, restolho
onde todas as coisas assumem a nossa presença
do alto dos montes grita um sol totémico
fala-nos de um céu diferente
e a mão exausta do homem
acabando sempre expulso desta terra
a uma qualquer hora
como a vigília é cega
se adivinhar nos tornasse mais vivos
a mansidão é um beijo na escuridão
um bocejo que espreita do postigo das sombras
búzios cantando ao ouvido
as vozes do vento
bravia calma que se vai arrecadando na alma
são os fios invisíveis
do encontro das criaturas livres
o núcleo secreto da vida
estamos a sós com deus
e deus parece estar ainda mais só

parou-se-me, como um relógio sem corda
a leveza a terra que me há-de cobrir
terra de fomes onde tudo ficou por florir

parou-se-me, como um oceano sem maré
a pureza a água que me há-de sentir
pureza de mente onde tudo ficou por viver


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