terça-feira, 11 de abril de 2017
Encarnação
os galhos ramos de silêncio da floresta, estalam
dedos de feiticeira magros cadavéricos
entes erguidos no seu posto zelam
pelos portais de outro hemisfério
do vírus vida, tudo brota luz rasgo de folha
lagos santuários de musgo desfigurados
fissurando os muros dos caminhos estreitos
percebidas as palavras que rumam ventos mistérios
as falhas dos seus corpos
deuses contemplam a imperfeição aos seus olhos
da noite seguinte
cada rosto de criança planta
o pronunciar lento de um tempo sem ampulheta
arenoso, pó de canela, que não avança
essas crianças que nunca saíram das entranhas
e eu chamo, chamo a mim todos os planos
de alguém que se deixou cair
ao abate, porque somos todos demais
para que se abram canais entre irmãos
os rios rasgam a terra com as mãos
escravas da lavoura mais próxima do chão
sentir que não se é digno de plano algum
sou como a sombra que atravesso esta vida
os vasos em que me desejei imaginários
tomam os braços de longas impressões
o passar das horas para o aceno involuntário das copas
que a certa altura regeneram o dia
o espírito humilde em harmonia
meu anjo negro obstinado
segura-me pelas arcadas paciente
pendurada para me soltar da carne
receber das chibatas do coração o caminho
fui destinada ao pensamento
e nunca passou um dia em que o corpo em agonia
não me chamasse já de morto
revirei os olhos, senti-me de azul
senti as pernas dobrarem-se ao animal
as malditas queimaram-me
e vezes sem conta morri de novo
tanto me doía, mais profundo, atiraram-me com as ganas
ao limiar pontiagudo do mundo
o abismo sabe a tecido conjuntivo
somos apenas sistema circulatório em contínuo
nutrido de paixão
sente-se o céu em solitude
depois do abandono
no último nano segundo
corro atrás dele
agarra o ventre com ambas as mãos
quase estoira de tanta euforia
esfolem-me enquanto viva
porque depois não sentirei mais a poesia
e as copas evocam a recordação
o que acontece à alma
vezes sem conta encarnada
em vão
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