quarta-feira, 5 de abril de 2017
vem escutar as orcas
vem escutar as orcas no cais do rio
contemplar as horas mortas
fabricante de clarões a dentro
violinos submarinos tamborilando ao ouvido
o embate contra as paredes da cidade
indo e vindo numa ondulação
cujo instrumento é nosso coração
nas pontas dos pés rasgos de luz
onde reina um prazer sem razão de ser
lugar sombrio do lado esquerdo
onde se fica quieto arredado do medo
que este rio é paixão
que atravesso a cavalo do chão
quero rir das palavras
porque as orcas sentem a vibração
das guelras dos acossados
sou pano cru e colo pintado
de vermelho e branco santo
um peixe liberto de aquário
na boca um pedaço tão grande de mistério
quero precisar este instante
desse branco que é seu reflexo
quando possuo a lua a dentro
sou lanterna farol de desejo
que a maré insiste em trazer contra o peito
os barcos moinhos os dedos dobrados
entrelaçados de escamas
e peixes mortos entediados
vem escutar as orcas
que se levantam das margens do cais
que em nossos pulsos escondem
todos os sinais
e cada gesto teu, perdido do fundo
numa cidade de província
onde os rios só trazem malícia
a cabeça e o busto mergulho
quando se perde a calma do flutuar
ser recluso desse pronuncio lento
puxa-me pela margem e fala-me do tempo
em que mergulhavamos por este rio a dentro
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