quinta-feira, 9 de maio de 2019
Inverno tardio ou o pior poema de sempre
Porque o poema chega sempre com a melancolia de um inverno tardio
como se gasto fosse já da sua energia vital
chega com a fatalidade do depois
como em tudo na minha vida e até a própria vida
Eu queria escrever dessas histórias perfeitas um romance ou muitos igualmente ilusório
mas como posso parar de viver se não paro?
vivo ao ritmo da respiração ofegante de um grito abafado nesse peito
e se não paro como posso escreve lo?
talvez por isso só me crio de poema
de rápida combustão e sempre tardio entendimento
Depois paro às vezes por tão breves segundos que os fotografo
novamente a ilusão de que me permaneço de algum lugar com tempo
e são os carris que me seguem do avesso
dizes que ao contrário estaríamos sempre no começo e que dessa forma nunca nos perderíamos na última página
dizes tanta coisa que se perde na verdade
as estações nascem fora de tempo à parte de qualquer tempo
Nascem-me dentro do peito porque as sinto
dessa forma como minhas
tu também nasceste do meu peito ou de um parapeito de onde me inclinei debrucei e caí
E é no fundamentalismo da melancolia que te registo assim alinhavado mal redigido sujo e pouco definido
Talvez o pior poema da minha vida
mas que vida?
Tenho às vezes a sensação de ter vivido tantas vidas que não vivi ao certo nenhuma
porque para se viver alguma é preciso escolher e abdicar de todas as outras
talvez por isso seja cobarde, acima de tudo e em última instância, cobarde
mas não tão cobarde a ponto do fim
esses são os bons cobardes
os outros escrevem poesia
Havia sempre uma cadeira no teu poema
No meu há uma cama
Deito-me nela aqui quando te escrevo
ou crio a ilusão de uma extensão de uma ideia que se deita num poema
e estar aqui
E o poema cansa se de racionalizar
pergunta-se pelo corpo que o faz vibrar
A cama fria vincada de suores frios
Chama pela voz que o há de soletrar
A cama fria deixada pelo corpo que lhe faz vazio...chama, também ela nasce com a sua própria identidade, é só uma cama
Só eu é que não sou..chama..chama-me
Uma e outra vez, entrando e saindo por esse canal húmido..de lágrimas ou fruto de uma masturbação solitária
Ou a grande penetração da vida pela morte
O poema tem a sua própria vida tão maior que a morte
E todos os nós que até aqui enevoaram a sua conclusão é porque são nós atados de paixão
Daqueles nós que agente aprende e depois esquece como se desfaz
E o poema ganha a sua própria vida, os seus pés, as suas pernas, a sua vagina e até..a sua própria ironia
Depois caminha de boca em boca como uma virose que se pega sem roupa
Para nunca mais ser livre
Porque se nos apega e nos apropira e nós dele
E nós? E eu? E a cama...sempre a cama a interpor-se entre nós ou esses nós que nos atam de depois...
Depois o poema nasce e está tudo na mesma foda
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