quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Chamar por Mim

M. dança sem coerência no varão da sala grande. Ao fundo um homem dos seus quarenta anos fuma charuto e observa-a. Não sabe porquê mas sente uma vontade imensa de chorar. Há algum tempo que isto lhe acontece. Na presença de mulheres atraentes, na hora de se envolver com elas, ao invés de ser invadido por ondas de prazer, chora, chora como uma criança. Sem razão..sem saber porquê. Todas as suas últimas noites de encontros têm acabado em momentos de aconchego e em palavras de alento. Começou a aperceber-se de ver nelas a sua mãe. Falecida há muitos anos, quando era ainda criança. Sempre fora um bom amante, homem de carícias e palavras bonitas. Desencantando de si mesmo, sente uma espiral sugar-lhe pelos pés tudo o que em si conhecia antes. Como se o chão o engolisse de vergonha por ser incapaz de ser homem.

O. fuma sem pausa na mesa do canto da sala grande. No centro uma mulher ainda jovem dança sem grande coerência. É a sua noite de estreia. Enquanto procura um ponto focal que a absorva da vergonha do seu corpo quase despido, deixa que o seu pensamento parta para trás. Quando ainda era menina e brincava aos casados. Vestia e despia as suas bonecas, cozinhava e sonhava com meninos bonitos e beijos proibidos. Ninguém lhe disse que seria assim. Que por obra de falta de oportunidades e de um vício que lhe fechou todas as outras portas, hoje seria bailarina de varão. Não chora. Não sabe o que é chorar desde criança. Não sente nada a não ser vergonha, vergonha por ser mulher, por ser esta mulher.

Quando o olhar dos dois se cruza.

Como se olhos falassem só por si. E AS LÁGRIMAS DE O. PASSAM PARA OS OLHOS DE M. E A VERGONHA DE AMBOS É DILUÍDA pela troca de saliva. Numa palavra...vamos! - Deixa-me só despedir do R. ! - pede-lhe M.

R. que durante todo o tempo esteve sempre atrás do balcão. Que tem explorado mulheres jovens e abusado da carência dos homens. Na caixa registadora vão somando facturas de vidas que não têm mais preço. Já o pai era o proprietário deste antro e ele, por nenhuma razão especial ou porque cresceu neste meio, pareceu-lhe tão natural dar continuidade ao negócio como observar tudo com a supervisão de quem pretende manter tudo tal e qual como está. Noite após noite, que a harmonia seja rentável para ele. Desde criança que vê a mulher como um fim para pagar contas e o homem como um ser fraco capaz de gastar o que tem e o que não tem em vícios nocturnos. Mas há já algum tempo que tem sentido estranheza no peito. Uma angústia sem nome que não consegue calar com nenhuma mulher ou bebida. Quando conheceu M. foi apenas mais uma, que passaria a ser sua propriedade. E quanto a O. seria apenas mais um cliente. Mas hoje, atrás do seu balcão, enquanto M. dançava e O. chorava sentiu algo diferente invadir-lhe o pensamento e o corpo. Uma ansiedade sem nome que o transportou para o tempo em que era menino e brincava com pistolas e carrinhos da polícia. Do tempo em que viu a primeira mulher a ser negócio para o pai, a mãe.

- Vou-me embora, desculpa, não sirvo para isto! - E M. e O. nem olharam para trás.

Três tiros. Nem uma lágrima de quem reportou isto. Mas no caminho para casa T. procura no bolso pelo pacote de cigarros que apenas usa em dias de grande espera. Há vinte anos que trabalha como jornalista de crime. Sente-se farto, farto sobretudo de não sentir mais seja o que for. Cada cena que reporta é apenas mais uma. Vive delas, como cão de guarda, sempre à espera do telefonema da esquadra. Pela calçada do Cais, fumando um último cigarro pensa quando será o dia em que será reportado o seu próprio crime. Porquê esperar? Esperar por quem? Não tem mulher, não tem filhos, nem animais. Ninguém o espera em casa.
E no momento em que decide avançar da ponte E. passa de carro.

E. acelera. Está atrasado para a reunião da manhã. Despenteado e com um molho de folhas no banco do passageiro procura pelo número de telefone na ficha do cliente. Aí estava, o número de O. Liga mas ninguém atende. Volta a ligar e ao passar pela ponte vê um homem pendurado do lado de fora do gradeamento. Na pressa de o ajudar trava e o carro de trás bate-lhe. Em queda livre sente o pânico e em poucos segundos recorda que nessa mesma manhã, quando o despertador tocou estava a sonhar com..não teve mais tempo de recordar.

EU. Eu limitei-me a escrever. E escrevo porquê? Há dias em que me sinto cansada de personagens, de vidas e de histórias que não me saem da cabeça. Dias como este em que acordo e quero apenas sair à rua e fumar um cigarro enquanto passeio e elas não param de me atormentar, como slides de fragmentos de sonhos, sonhos que não são meus e que me consomem com as tormentas dos outros. E por quem passo apenas vejo angústia, choro e ausência de vontade de viver. O meu nome é M.O.R.T.E. e por favor, deixem de chamar por mim.

Déjà Senti

Olha, olha o mundo que está lá fora..sente tudo o que há para sentir e deixa que sejas parte dele. Dele. Elemento de Universo paralelo de microship com rápida introdução no coração. E reprodução de muitos de ti. E instalação de fórmulas inorgânicas. E assim, janelas sampleadas de nós virão trazer-nos espelhos de realidades que não vivemos. Caractéres de tamanho de corpo infantil, de baixo valor aqui. Ninguém cuida mais deles. Ninguém quer saber. Dantes era hereditário. Dantes..Alma Mater..agora..Alma CaedereAnda envolve-me mais uma vez. Dá-me este último cólo. Aperta-me, centrifuga-me até ti. Até sermos unas. Unicelular como ovo de avestruz. Anda levanta-te e olha o mundo que está lá fora. Está à tua espera. Cheio de fome e de sede. Qual deles? Como déjà senti..eu não sei em que mundo sentes agora. O teu olhar parece estar sempre focado em algo que não está lá e o teu coração bate tão depressa que se vê do lado de fora. Espiritual, emocional? Parte de ti é felino e a outra parte é apenas inquilino..em mim. Nas horas que viajamos juntos por lugares absurdos. Mixando em Analógico. 
Amor Amorfo

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Na mão de todos Nós


Eu vi nascer um cravo. Cravado no cimento de um prédio, ciumento de outro tempo, arranquei-o e matei-o. E o gesto levou para longe o medo. Tranquilo de ser um segredo, continuei ao meu jeito. Subterrâneo, silencioso. Subcutâneo e cobarde. E o tempo foi mais teimoso. Vigilante da Liberdade. Fui eu quem o plantou para esse propósito? E alimentou e preparou, como um filho? Agora recordo. Contei-lhe histórias, reguei-o com memórias e adubei-o com coragem. Fiz dele a voz da revolução. O orgulho de uma geração. E depois..Agora recordo. O cimento. Tinha no pensamento dar-lhe o eterno. Monumento para que ninguém esquecesse esse tempo. Esse querer maternal que à velocidade de um gesto o matou. Por ele passaram dias distraídos. Pisado, usado e festejado sem afecto. Agora tudo faz sentido. Arranquei-o e replantei-o. E do meu sopro espero que cada semente chegue ao outro. Agora vejo nascerem irmãos. Na beira das estradas, nos jardins e até nas próprias estátuas. Vivos no pensamento de todos nós. Vivos na mão de todos Nós. 

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Só um desabafo

Os gatos continuam num desassossego que quase parece humano. Meia noite e meia. Com mais meia será uma. Só mais este cigarro e vou dormir. Dá-me tempo para o fazer e contigo partilho o meu último pensamento antes de ir. Pergunto-me o que fazes tu agora. Dormes? Escreves?Vegetas na frente da televisão ou simplesmente olhas para o tecto do teu quarto. Dantes o meu tecto tinha várias constelações e duas luas. Sim, não me chegava uma. Assim como não me chega uma vida. Várias são as vezes que sinto não ter horas suficientes nos dias para explorar e desenvolver tudo o que tenho em mente. E há ainda o dormir. Perde-se tanto tempo a dormir, mas sabe tão bem! A minha cabeça não acorda bem quando durmo demais e na noite passada dormi demais. Já lá vão duas casas mãe! Da primeira arrumaste todos os meus brinquedos e escolheste aqueles que estavam velhos para dar. Quando vieram as caixas da mudança procurei e já não os encontrei mais. Como podias tu saber quais eram os brinquedos que para mim tinham importância? Certamente os mais velhos e mais podres, sim, esses eram aqueles que mais valor tinham para mim. Porque mais tempo brinquei com eles. Depois na segunda mudança ficaram para trás todos os objectos que compunham paredes que mais pareciam um museu. Sempre gostei de guardar tralha. Desta vez, ciente de que podias fazer as escolhas erradas pedi-te: os meus livros mãe, não os deixes para trás! O resto podes dar tudo. Assim ficaram as constelações e as luas, bem como malas, sapatos, roupas e tantas outras tralhas que não teria onde guardar hoje na minha casa nem me fariam falta nenhuma. Mas há uma coisa que não cabia em lado nenhum nem era passível de ser transportada e que se perdeu em todas essas mudanças. Na roda do volta e sai, do muda de cidade e do muda de vida, ficaram as memórias de uma casa de família. Só consigo encontrar pequenos momentos poucos na minha memória. Eu sei, não foste tu que os apagaste e sim eu. Apaguei-os porque não podia voltar a vivê-los. Agora tenho a minha casa. Pequena e cheia de tudo o que me faz falta e até o que não faz. Quando mudar, espero não ter de escolher. Que seja uma casa maior para lá tudo caber. Estou cansada de perder momentos. Só os livros não se cansam nem se esquecem. Cada livro que li sou capaz de me lembrar onde, quando e o que estava a viver nesse momento. Já os brinquedos, esses podes finalmente dá-los. Serão demasiado pesados para servirem aos meus filhos. Mas deixei na tua casa todos esses livros. Um dia serei eu a fazer a tua mudança e quando estiver sentada no teu quarto vou poder ir ás caixas onde os tens guardados. Posso ser eu a ler-te como fazias quando era pequena. É uma ideia que preciso de começar a plantar na minha cabeça. Para que cresça com suporte. Se nunca o fizer ela cairá no vazio e será muito mais difícil de a entender. Mas alguém consegue entender a morte? Não me conformo com a ideia de sermos obrigados a nascer, de passarmos uma vida inteira a lutar e depois, no fim, desaparecermos. Eu espero morrer de velha. E nessa altura já estar cansada de viver. E nessa altura já não ter medo de partir. No outro dia disseram me que aos quarenta os amigos já só se encontram nos funerais dos pais. Dei-me conta de que tenho trinta e só faltam dez. Pensava eu. Mas há sempre quem veja os pais partirem antes do tempo. Eu vivo com a ideia de morte iminente do meu pai há doze anos. Já não é tão iminente ou cada vez é mais iminente. Desculpa estar te a contar estas coisas a estas horas. Devia ter ficado pelo primeiro cigarro e ter ido dormir meia hora antes. Mas assim como me faz bem pensar sobre o assunto talvez a ti também faça. Custa mas depois sentimos alívio. Respiramos fundo e pronto, recordamos que estamos vivos e que é aproveitando cada momento que damos valor a esta viagem. E os gatos olham os dois para mim como quem diz "vai-te deitar" e para reforçar a ideia entornam o chá pela mesa. Eu vou. Eu fui. 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Musa de Plantão

A MUSA DE PLANTÃO

A minha musa! Já há algum tempo que eu precisava de escrever sobre ela. Não foste a primeira e talvez não sejas a última. Admiro aqueles que tiveram apenas uma. Neste momento és tu. Já há algum que és tu. Eu preciso de ti para criar. Preciso de ti para respirar. Preciso de ti para me levantar da cama e começar o dia. Quando não te vejo por algum tempo fico em bloqueio. No vazio, as palavras não vêm de mim, não vêm de lado nenhum. Eu procuro mas não encontro. Porque não te sinto perto de mim. O teu efeito é anestesiante e ao mesmo tempo estimulante. Quando estou muito perto de ti, colada cara a cara, receio perder te. Tenho medo que se torne banal, que desapareça o encanto que sinto por ti. Tu sabes que nunca quiseste ficar ao meu lado, por isso a minha busca é interminável. E é essa corrida, por ti, que me faz criar mais e mais. Tenho pena, nunca saberei como seria viver na realidade contigo. Porque só podemos existir no plano do pensamento. Todo o poeta precisa de uma musa. E ela pode ser alguém que já teve e perdeu, alguém que deseja e não pode ter, alguém que não o quer ou alguém que nem chegou a conhecer mas que imagina. Musa perdida, Musa Idealizada, Musa Platónica, Musa Encantada ou Musa que despreza. Para outros, a Musa pode ser alguém concorrente, em competição por um lugar. Não é tão nobre ou tão romântico mas não deixa de ser válido. De qualquer forma, a minha musa é alguém. Que não me quer ou não posso ter. Que já tive e não tenho mais e se ainda minha fosse já não seria a minha musa. Porque na verdade só funciono com Musas Platónicas. O que faz de mim, romântica. Por isso cada vez que estou perto de ti, posso ser diferente consoante o grau de necessidade que tenho de ti. Posso ser mais fria ou mais quente, e tudo depende de como tu fores para mim. Uma coisa é certa se tu correres atrás de mim, passarei a ser a tua musa e nesse caso, perdi te! Por isso serás sempre tarefa inacabada, impossível ou inacessível. Eu espero que tu nunca ouças esta versão. Terás a tentação de vir atrás de mim e o que eu preciso de ti é exactamente o oposto. Há coisas que vivemos e há outras que simplesmente devemos correr atrás, até nos cansarmos. Nesse dia devemos procurar uma nova musa. Porque a inspiração serve para criar e não para amar. Mas mesmo assim paralelamente a tudo o que acredito, eu amo te. A minha poesia tem tanto mais valor quanto maior a minha possessão por ti. E no limbo da sanidade está o meu equilíbrio vital. Várias vezes já passei essa linha. Contigo aconteceu quando fomos um só, por breves instantes. Depois veio a saudade e a impossibilidade de estar longe de ti. Quando me curei transformei te em Musa. Nem todos nascem Musas. Tu foste metamorfose de um Amor-Morte. E eu já não sou mais livre mas estou agora livre para criar. Os muros da ilusão são as paredes da minha casa. Tudo o que escrevo vai dar a ti. Tudo é memória revivida, daquele dia que passei contigo. E de noite, torna-se mais intenso. Tu apareces noutros rostos, noutros versos. Hoje tu não és só som e ritmo, és lógos vivo…Deste-me um Não perfeito. Tu és o meu recurso irracional, o meu dicionário emocional. Por isso nunca te considerei um erro, e sim um Mistério Perfeito. O meu pensamento é alado. É preciso que exista entre nós a correcta tensão e que nas pausas eu tenha clareza para criar. E memória para preencher a história. Para mim a palavra não é científica assim como a música. Tudo na minha vida é empirista e sensitivo. Só depois vem a razão ou a procura dela. Sinto, existo e penso. Por ti sinto, por ti tenho vontade de existir e o que é que eu penso? Que pouco me importa a razão de tudo isso.

Tudo em ti, tinha de ser assim!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Correio da Tarde

As minhas folhas voaram todas e com elas a pouca organização que já tinham. E quando a porta tocou fui abrir. Era o correio. Dizem que bate sempre duas vezes mas aqui no prédio tem costume de bater sempre na porta errada. Era uma encomenda para o vizinho. Não sei porquê mas disse ao rapaz que era o meu marido e assinei a encomenda. Bem sei que isto não se faz. Era uma caixa grande, demasiado grande para o tamanho da minha sala. Numa caixa grande cabe toda a vida de um ser humano? Se eu mudasse de casa aos oitenta anos e só pudesse levar uma caixa, o que lá colocaria dentro? Se callar era para ir para um lar e aí a caixa seria ainda mais pequena. Partilhar um quarto tal como nos tempos de estudante mas desta vez com outra velha! Só a ideia parece-me aterradora. E se essa velha fosse rabugenta, e se essa velha ressonasse mais que eu? E se ela morresse durante a noite? Intrigam-ne os pensamentos de quem se vê numa situação destas. Se calhar ficavamos amigas e fazíamos companhia e contavamos as histórias das nossas vidas. Se ela não me roubase o pão á refeição sim, seríamos. Então o que levaria eu nessa caixa? Ou melhor, focando-me no presente, o que estará dentro da caixa do vizinho? Eu sei mas vocês não. O presente, se bem me lembro de quando o comecei a escrever, já era passado. Sim, abri a caixa. E embrulhadas estavam nada mais nada menos do que roupas de mulher. Vestidos de noite, sapatos altos, soutiens...até uma caixa de maquilhagem e algumas perucas louras. Eu pensei o mesmo que vocês, é um presente para a mulher dele. Mas quando vi o número do sapato, era 45! Que mulher calça este número? Deve ser enorme!! Não, segunda ideia luminosa, o vizinho tem alguma profissão paralela que envolve vestir roupa de mulher ou pior ainda, é tarado! Pior ainda disto tudo foi eu ter recebido a encomenda e ter visto o que estava dentro da caixa. Agora eu sei o segredo dele ou ele pensa que o sei...a menos que a caixa lhe vá parar á porta como que por mistério divino e aí ele não saberá quem a recebeu. Eu não sei o que faria se ele descobrisse que eu sei o que afinal nem sei bem se sei. Bem feito, quem te manda mexer nas coisas que não são tuas! Bem mas há outra solução um tanto ou quanto maluca mas é possível que resulte. Vou enviar para mim própria uma caixa com algo tão pessoal que seja segredo e coloco só o numero da porta dele sem nome cá fora. Lá dentro identifico o dono da encomenda: eu. Assim ele terá de abri-la e vai ficar a saber um segredo meu. Depois trocamos as caixas com ar comprometido e tudo fica na santa tranquilidade de antes. Na verdade foi o que fiz. E o que coloquei lá dentro? Bom terias de me enviar a tua caixa para ficarmos ambos a saber os nossos segredos na santa cumplicidade do segredo mútuo partilhado. O vizinho que me perdoe mas eu tinha de desabafar esta história com alguém. E não é sempre assim que se espalha um segredo?

Bolas de Saibão

Saibam vossas excelências que bolas nem vê-las! Diz que prefere quadrados ou riscas e ás vezes outros padrões mais ariscos. Foi coisa de que sempre teve a certeza. Fiquei curiosa. A natureza tem desta coisa. Quando era criança ia para a varanda e levantava a saia. E ela rodava e era o vento quem acarinhava. Depois a vizinha chegava e debaixo da cama o resto já se sabia. Que naquela idade inocência era coisa de gente que não via.  Bolas! Não era assim que te queria falar. O que vem sem ser esperado, bem quer ser encontrado. E na verdade viemos a encontrar-nos vinte anos mais tarde. Estava ela a fazer bolas de sabão numa praça em Milão. E eu fiquei-me pelos versos. Por onde tens andado? Por aí, respondeu ela. Já não sei quantas linhas e quantos riscos por cima desta história eu passei. Todos os poemas vão dar a ela, inevitavelmente. Quando levitavamos de mão dada e prometiamos uma à outra sermos..namoradas. Pode o tempo apagar tamanha vontade de lá voltar? Mudarias alguma coisa? Sim. Corria atrás de ti e se me magoasses lambia as feridas e seguia-te até que os pés me doessem. Como um cão abandonado na beira de uma estrada. Maltratado e à espera do dono, do único dono que tivera. E afinal o que me querias dizer?  Queria oferecer te um poema. Mas de entre todos os que escrevi não consigo escolher um só. Todos eles são um compendium..de ti  e talvez para ti. Guarda isso tudo e publica um livro. Sempre foste ingénua e ao que parece, não cresceste desde então. E sou eu quem faz bolas de sabão numa praça de Milão!

sábado, 25 de junho de 2011

Lá Perto

Moro lá perto. Perto de uma casa caiada de branco e listada de azul. Moro logo ao lado do profundo oceano. Lá onde as velhas ainda choram em coro. Onde os miudos brincam com bolas de couro. Onde o pão cresce no forno, onde a luta amassa a terra, onde os filhos aprendem a palavra: guerra. Moro lá perto mas já não vivo lá dentro. Parti e acampei na fronteira. Onde não sou guerreira nem estrangeira. Naquela linha onde alguém é...ninguém. Não se sabe ao certo quantos somos mas todos os dias chegam mais manos vindos de todos os cantos. Á noite ecoamos palavras de  livros que escaparam ás queimadas e deambulamos pelos montes,  por isso nos chamam: os monstros! Também há quem diga que somos fantasmas, sombras de gente daquelas terras, gente que arrumou a tralha e partiu. Como eu.

Não tinha muita coisa, a maior parte eram livros e escritos meus. Esses acabei por lança-los á fogueira também, não os livros, os escritos. Eram meras exorcizações minhas, sem qualquer valor literário. É preciso dar lugar ao novo. Ficar preso ao que já se fez empobrece o espírito criativo. Talvez por isso tanta gente tenha feito o mesmo. Mas não deixamos para trás só palavras, deixamos casas, objectos, vizinhos, amigos, família e memória...muita memória. Quem aqui acaba de chegar nunca traz um sorriso no rosto. Traz muita mágoa e desgosto. É doloroso romper com o passado e partir em direcção a nada. É doloroso abandonar uma identidade por muito amortizada que ela esteja. Dói encarar um rosto vazio e partir apenas com as mãos nos bolsos, arrumadas e guardadas para fazer não sabemos o quê amanhã. Mas dotados de muita coragem, todos os dias aparecem mais, vindos de todos os cantos do mundo, manas e manos de todas as formas e jeitos. A nossa rotina é simples, dormimos de dia nos pinhais, abrigados do sol tórrido que absorve as quatro estações do ano. E de noite, deambulamos à procura de respostas, e de comida, deixando ratoeiras para os animais da floresta e redes para o peixe no mar. Muitas vezes caminhamos juntos em silêncio, conectados pelas palavras que temos ca dentro e que nunca se calam. Todos carregamos este fardo e alguns de nós não sabem o seu próposito. Preferem ignorar a vontade da palavra que vem de dentro. Mas ela não se cala, de noite ou de dia, ela transcende o nosso pensamento e cria raízes nos nossos cérebros. Somos diferentes mas cada vez mais. Amanhã provavelmente seremos todos iguais e nesse dia talvez a palavra se cale e dê por terminado o seu propósito. Tenho fé de que logo no dia seguinte a palavra se metamorfoseasse em algo diferente e que um a um fosse colhendo novamente cada um de entre qualquer um. Mas é só uma fé, já mais acima daquela que me move neste momento na procura das minhas respostas ao lado de todos eles.

Assim, depois de terem passado não sei quantas noites e dias, hoje, posso dizer que: Moro Aqui. Mas a pergunta que insiste em resposta em mim neste momento é esta: Qual é a diferença? Qual é a diferença entre a vida lá dentro e a vida aqui na fronteira? E será que para além destes limites, há outra vida diferente? Eu sei que estou a fazer as perguntas erradas e que é por isso que não encontro as respostas certas. Eu sei que a pergunta que eu deveria fazer é esta: Qual é a diferença em mim? Aqui, lá perto, lá dentro ou lá longe, não importa. Eu sei. Só não estou pronta para a resposta. Ainda Não.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Jardim Suspenso

Por cima da minha cabeça paira um Jardim...suspenso..se penso que entendo a área que vejo, me engano. É todo o meu desconhecimento. Por cima da minha cabeça paira...paira, um jardim suspenso, preso a nada. A dimensão é vaga, vaporizada na copa de cada árvore, como algodão de sonho. Acendo um cigarro e da minha boca sai uma coluna de fumo que atravessa esse jardim...abrindo espaços vazios, buracos num quadro precário. Que se fecha na mesma velocidade, redesenhando cada folha e cada ramo. Em tranquilidade. E os meus pés descalços sobem degraus de pedra fria. A cada passo acima, deixo para trás uma terra que já não é minha. Também eu me vou desvanecendo em cada linha, absorvida nos vapores botânicos de desmaios verdes.  Da carne ao vegetal, do peso à leveza total. Quanta beleza me envolve e me escolhe. Lá em baixo, tudo parece cada vez mais pequeno. Sou eu que me afasto, como uma balão perdido de uma mão. Aqui não há perfume, não há toque, não há tempo e, por isso...tudo se funde num só corpo aquoso, vaporozo. Eu sou jardim, suspenso sobre o que antes era, mim. Dito assim parece triste mas mal consigo descrever a harmonia que agora existe. Queres guardar isto? Se tiver alguma utilidade sim, senão vai para o lixo. E sem pedido meu, sem vontade nenhuma..num escaço sopro de segundo, sou sugada à terra. Como se alguém tivesse engolido todo esse momento, numa expiração invertida e voluntária. Olho ainda para cima, na esperança de que esse jardim ainda lá esteja, fecho os olhos e tento lá voltar, como quando acordamos a meio de um sonho bom e fazemos um esforço para lá voltar. Mas tudo o que me envolve tem agora cheiro, tem ruído e tem tempo. Sinto até o gosto amargo de um regresso imposto. Talvez seja o efeito do veneno que regressa à minha boca.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Dai.me Força

Dai.me força para continuar. Quem? Disseste isso a quem? Não importa, só sei que disse: Dai.me força para continuar. E deu. Mas deu pouca porque deixou a deixa: o resto é contigo. Agradeci e segui caminhho. Mas ainda me pergunto se agradeci com gratidão sincera ou se mordi a língua e pensei: cabrão de merda. E já lá vão alguns anos desde que segui por essa estrada. Já encontrei muita porta fechada, muita janela mal lavada e muito tecto falso. Não me faltaram companheiros com promessas pouco gratuítas nem me faltaram amigos com invejas muitas. Mas segui e deixei na berma de cada rua toda a minha amargura. Porque pesa, porque me atrasa, porque me cega. Aprendi a relativizar e em consequência, a perdoar. E é por isso que com o passar dos anos me sinto cada vez mais leve. Talvez por isso caminhe mais depressa saltando de pedra em pedra. Em breve serão trinta. Romanticamente não imaginei passar dos 27. Quem me quer bem aponta-me tudo o que já levo no bolso das conquistas, mas tão pouco me sinto ainda satisfeita porque todos os dias avanço a linha da meta para nunca chegar a corta-la. Olha lá, tu não estarás com vontade de descansar? De parar e apreciar a paisagem? Não estás cansada desta viagem? Para um grande irrequieto, parar é sinónimo de tédio. Parar é morrer por dentro. Ás vezes gostava de ser mais assim como tu. De ter uma só vida dentro de mim. Não, não teria piada nenhuma. Respeito a tua escolha mas prefiro as minhas escolhas. Alguém me disse também numa dessas ruas que se aos trinta não encontraste a tua estrada e se aos quarenta ainda te sentes baralhada, então não procures mais porque já ficaste encalhada. Nah, não consigo partilhar dessa visão, até ao último segundo é sempre tempo de decisão, de encontro e união, ou de mudança de estação. Porque se te arrependeres, para trás não voltes. Há sempre três caminhos: o que escolheste, o que escolherem para ti e aquele que te encontrou.
Eu não sei porque é que me dá para escrever estas coisas. Será que as diria a um filho? Acho que não. Provavelmente diria: força, agora é contigo!

sábado, 21 de maio de 2011

HipHopARte

Estava a pensar em arte conceptual quando liguei o assunto ao HipHop. E foi nesse momento que me encontrei ou que encontrei o meu lugar. Vou tentar clarificar. Mas antes disso também me ocorreu dar uma palavra ao leitor. Para quem lê este blog talvez seja um pouco confuso às vezes associar as minhas deambulações ao contexto musical a que me associo. Isto porque me parece que sou demasiado intelectual para o leitor do submundo e demasiado simplista para o leitor literário. É precisamente aí que me situo: em lado nenhum! Isto porque não nasci em bairro, nem sequer nasci em lisboa. Sim, nasci no Alentejo, terra de bons artistas, apreciadores de good life e outras tantas coisas associadas a prazer. Ao mesmo tempo, terra de tamanha paragem cardíaca. Por isso mesmo não me considero há muitos anos alentejana e sim lisboeta. Mas Lisboa para mim é o coração da cidade, a velha, a turística e a paisagística, não a bairrista. Uma vez mais aqui também não encaixo no perfil habitual tuga do Mc "madafucker" daqui ou dali. A meu ver, aqueles que são inteligentes já se começaram a desligar dessas identidades bairristas, precisamente porque começam a fazer música! E aqui entra a arte. O que me leva ao início. Arte conceptual: um conceito, uma ideia plantada num território que tresanda a mais do mesmo. Esse conceito sou eu. Porque não fazendo parte desse dito movimento e pouco ou nada a ele tenha pertencido, tenho toda a liberdade do mundo para fazer musica e trazer ao HipHop esse conceito: arte. Porque se é para fazer música que não é arte, então prefiro calar-me! E se eu criasse uma instalação para o HipHop Nacional não tinha dúvidas: um microscópio e na lamela a palavra "Arte" inserida nas minhas células.
Bem haja a todo aquele que segue o mesmo pensamento!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ás duas por três

Ás duas por três dei comigo a pensar que todos queremos o mesmo: ser felizes. Cada um à sua maneira. Mas de que maneira contribuímos para esse plano? "A Felicidade exige Valentia", by F. Pessoa. Que é que ele queria dizer com isto? Só os cobardes assumem o papel de vítima, só os cobardes atribuem aos outros a causa da sua infelicidade, só os cobardes é que não acreditam que é preciso acção para chegar lá. Desistem, mudam de planos, acomodam-se, perdem-se, esquecem-se. Deixam de se cumprir. Quando nascemos temos um e um só dever: cumprir a nossa vida. É um compromisso. Viver não é fácil, ninguém prometeu que seria. E há muitas formas de vida. E muitas deformações imprevistas. Há muitas formas de chegar ao nosso compromisso e há também a forma de não chegar de todo. Aquele momento em que nos questionamos sobre o nosso plano, muitas vezes questionamos até se alguém terá elaborado um plano por nós..autor: destino, para os religiosos, Deus.
Ás duas por duas dei comigo sem certezas. Ou com a convicção de que é esse o caminho certo. Quantos mais "ses" invadirem a minha mente mais coerente se torna o meu plano. Mais elaborado e pensado. Mais precavido de imprevisto. "Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."by, Fernando Pessoa.
E o meu castelo está construído nas alturas, não faço por menos. Não tem luxos nem desperdícios. Tem virtudes e até uma certa vaidade na sua convicção. Está ladrilhado pelas minhas palavras. Não carece de  obras de manutenção porque o tempo vai ser o meu maior aliado. Com ele aprendo que cada buraco do meu telhado é testemunho do meu erro e a chuva que cai lá dentro não deixa que fique no esquecimento.
Ás duas por nenhuma concluo que viver é fácil, difícil é acreditar nisso!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Paralelismos

Paralelismo sintático é um encadeamento de funções sintáticas idênticas ou um encadeamento de orações de valores sintáticos iguais. Orações que se apresentam com a mesma estrutura sintática externa, ao ligarem-se umas às outras em processo no qual não se permite estabelecer maior relevância de uma sobre a outra, criam um processo de ligação por coordenação. Diz-se que estão formando um paralelismo sintático.

Ora se enquadra no conceito de pessoa em grupo, ora se aplica à arquitectura que se constrói em função de um colectivo. Não só não se verfica na competição doentia  que o conceito de crise impõe mas também não se verifica quando isolamos territórios porque no fundo o que receamos é que nos invadam o nosso débil quintal. Tanto o procuramos na adolescência quando o sentimento de pertença aperta, quanto nos afastamos quando nos queremos impor pela diferença por necessidade de sermos mais. Isto é tudo puramente sintático, ou seja, em absoluto distanciamento de relação. E contudo, contrariando o paralelismo que se impunha ao início, tanto de indíviduo social se encontra entre as linhas desta oração -  à união  -  paralela ou concorrente, que nunca se esqueça que em certo ponto todos dependemos uns dos Outros!

quinta-feira, 3 de março de 2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

FRANKSTEIN AINSTEIN - Mc Santiago

FRANKSTEIN AINSTEIN

O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário - Albert Einstein.
E alguém me responde: Não percebi!
SILÊNCIO. Numa caverna escura um homem cria outro homem. Corta e recorta. Cose, aperta, desfaz, repensa e eis que surge um novo homem. Não é bonito de facto mas com tão pouca luz difícil seria fazê-lo perfeito. Na ausência da palavra falada este novo homem descobre um dicionário. Dá o seu primeiro passo na página "S" donde aparece "Santiago": Nome Latim - Significado: Alegre.
Alegre que tão pouco rima com greve, sede, fome, gente, descontente ou crente. Passou à frente. O dedo percorreu umas tantas linhas e parou na palavra "Sucesso":
Aos 02 anos sucesso é: conseguir andar, Aos 04 anos sucesso é: não mijar nas calças, Aos 12 anos  sucesso é: ter amigos, Aos 18 anos sucesso é: ter carteira de motorista, Aos 20 anos  sucesso é: fazer sexo, Aos 35 anos  sucesso é: dinheiro, Aos 50 anos sucesso é: Status, Aos 60 anos  sucesso é: conseguir fazer sexo, Aos 70 anos sucesso é: ter carteira de motorista, Aos 75 anos . sucesso é: ter amigos, Aos 80 anos  sucesso é: não mijar nas calças, Aos 90 anos . sucesso é: conseguir andar.
Riu-se. Ironicamente será isto a vida lá fora? Procurou a definição de "Trabalho": ocupação, profissão, osso duro de roer, um abacaxi para descascar, macumba, esforço, mão de obra, despacho mandinga,coisa-feita, maldade, feitiçaria, empenho, catimbó. 
 Ficou  confuso. Porque sentia necessidade de tudo classificar como bem/ mal, certo/ errado. Estranha dicotomia. Porque serve para o bem ou para o mal ou porque nos faz bem ou nos faz mal? 
Nenhuma das duas: Porque nos serve para alcançar o Sucesso. E recuando na definição atrás apresentada, Sucesso entendido como resolução de tarefa proposta com alcance de objectivos pré-estabelecidos. Muito 
retórico?  Falemos então de prazer. E Eis que na caverna se ilumina a nova cabeça. Passo a passo, lá fora, do lado de fora, o prazer da descoberta de tudo. NÂO. O criador irritou-se. Faltava cumprir o seu primeiro objectivo: tinha criado um novo homem para ser um espelho de Si mesmo, cansado de pensar para dentro em solidão. Faltava conhecer por dentro, através do outro. Egoísmo? Não foi Einstein que o disse mas responde à questão: o amor é sempre um egoísmo a dois! Pelo menos, no ÌNICIO!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Santiago: Abertura

Santiago: Abertura: "Um homem pode ser sucedido em quase tudo aquilo em que se empenha com entusiasmo ilimitado. Estava assim escrito na capa do caderno que com..."

Abertura

Um homem pode ser sucedido em quase tudo aquilo em que se empenha com entusiasmo ilimitado.
Estava assim escrito na capa do caderno que comprei nos chineses. Achei por bem começar assim mesmo. Encaixe Perfeito. Mas pergunto-me se os chineses acreditam na sorte. Sim, pensando nos bolinhos com aquelas frases tipo astrológicas a que chamamos bolinhos da sorte. Será que são deles? Não importa a pequenez da minha cultura, até porque no Google estaria com certeza a resposta se me apetecesse procura-la. Mas não. Tenho sentido uma certa nostalgia pela caneta, pelo papel. No outro dia estava na Baixa a passear e lembrei-me de quando ia às compras com a minha mãe. Telefonei-lhe. A distância dos anos que já fiz fez-me esquecer de tantos pormenores que me faziam feliz. Foram precisos alguns anos para que a reparação da minha estúpida adolescência se pudesse dar. Agora quando me vem à memória é com nostalgia agradável, são bons momentos, são saudades e às vezes até vontade de lá voltar. Só para visitar, óbvio, porque todos os outros maus momentos ainda lá cohabitam, não em luta por ocupações territoriais mentais, apenas em quartos separados. Parei.
Há muito tempo que não escrevia em prosa. Talvez seja a hora. Criei um Blog. Não é a mesma coisa mas tem uma vantagem a meu ver: é público. Vai com certeza obrigar-me a educar a minha escrita para fora, torna-la mais reflexiva do que pensativa, mais activa do que abstracta. Será? Pergunto-me se alguém se dará ao trabalho de lê-lo. Tomo nota, será uma transcrição deste caderno, pois foi ele que me abriu o apetite.
Outro assunto sobre ele mesmo: sobre o que será? Mas quem será, o pai da criança? Perfeito verme do ouvido que os miúdos consumiram este Verão como se não houvesse mais som no mundo. Eventualmente acabei também eu por ser consumida nesta diarreia auditiva. E a propósito disto expliquei-lhes o que era um verme do ouvido. Não perceberam muito bem e acabei por mostra-lhes a minha música a qual amaram "tu és uma estrela, não vais aos ídolos JÔ?", na mesma sem perceberem. Não sei se foram os únicos! Atrás.
Sobre o que será? Sobre aquilo que me apetecer. Ainda me orgulho de dizer que sou mimada na escrita e só escrevo sobre o que me apetece. É livre por assim dizer. Se sou mimada só na escrita? Não, isto não é um perfil do Facebook e não estou interessada em escrever só sobre mim. Alguma coisa com certeza, de outra forma seria vazia de humanidade, ou personalidade.
Claro que pode ter muitas formas e muitos nomes, talvez possa no fictício aparecer, em personagem, na poesia, nas frases feitas ou originais. Pois se vem de mim, sou eu! Mesmo que ás vezes desgoste, ou não gostes ou que estranhes ou não reconheças. Sim, sou eu e sim és tu, que lês, quem lês. Por isso para ti, volto ao inicio, circular como aprecio e contigo partilho aquela frase. Volta a ler. Se estás a pensar na falta de sorte que tem acompanhado o teu empenho ilimitado, então esta frase é para mim e para ti: QUE SE FODA A SORTE, O CAMINHO É O EMPENHO!