sexta-feira, 22 de abril de 2016
diálogos de pedra
a chuva vai lavando as estátuas
no diálogo de um apego que escorre
esses braços de pedra que acolhem as pombas
na sombra que embala a febre dos dormentes
nesse tapete de corpo alcatroado expandido
aos caprichos do vento a alma é jogada
para longe
e confessar-lhe o murmúrio da vontade
de levar tudo
há um íman que nos arrasta pelas nuvens
cravejado nas estrelas um animal dolorido
as chagas de uma criança que nasce contigo
fins em que os amantes se desconjuntam
separa-os o ciclo da nostalgia
há o inesgotável cântico da morte
que os enlouquece de mágoas
e as minhas mãos calorosas que gelam as tuas
porque nem o sol acorda nem a lua se deita
das origens parece que a primeira palavra
pertence a deus
mas não, tudo foi a terra que nos deu
e à terra tudo se converte
amanhã, o dia será sempre ateu
no fuzilamento dos sonhos que se confessam
comungar-se a fome bestial
quando o sangue é tão fluído que escorre
desse céu sem ideal
o coração deixa de ser uma palavra
feito de pedra e espinhos de cristal
o interdito supremo ódio
donde não se quer ver pessoa, flores ou animal
durmamos por agora.
continuas mãe na tua infatigável obra
sou artefacto nas palavras que te deixo
continuas mãe como se nas tuas voltas
coubesse um deus inchado de vida e sacrifício
sou pura traição em tudo o que te confesso
mas a chuva lava. a chuva lava o que não se chora
no diálogo de um apego que não se sente
esses braços dormentes que me acolhem
pomba que existo dentro da pedra
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