quinta-feira, 14 de abril de 2016

vejo para lá da dor


pelo despertador de cordas dormentes
um elmo sobre partículas rarefeitas
algo se dispersando de pensamento nutridos
do alojar oblíquo de vidas cumpridas
como se desfiasse momentos sílaba
como se desafiasse puro improviso
o espaço calamitoso toma um rumo soberbo
quando coroados os vales do nosso peito
e inclinados os ribeiros das nossas lágrimas
a energia laminosa mimética de tudo
um espectro temperando veios violentos
quando o desfiladeiro de uma mente imprópria
austeramente as pétalas regressam à flor
renovando de arte ígnea
o esplendor da liberdade de não se ser nada
a antiguidade de deus
vem na palavra do adeus
e há frases que terminam por si mesmas
com uma inspiração prolongada
ou um gesto de pausa satisfeita
é o espaço preenchido do lugar do silêncio
o negativo do que faria sentido
que descarrega a sombra do imaginário
no arame acrobático do real
no lugar de torres de pedra estão linhas de seda
e bastaria que alguém saísse de tom
para o castelo de alusões se edificar

a poesia é um labirinto sem saída
ao enclausuramento do comum mortal
que espera desta uma revelação total

que esperas tu do cimo das alturas?
que a terra seja leito macio para todas as torturas
que compõem o teu fastio

a beleza vivente tem um tom lúgubre
o desejo de nos revestirmos lentamente de quente
há um outono lá fora que tudo despe
numa desarmonia de despedida
parte aquilo que já nos serviu
talvez cíclica a primavera seja promessa
débil feminina a vida em flor
se revestindo de prosa e amor

tento colmatar a saudade com a paisagem

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